A dimensão real de Deus
fica restringida ao ser
comparada com o sofrimento do homem, a sua inveja, as suas desilusões e
negações, a doença e a infelicidade, a verdade condicionada, os sonhos caídos, o
amor perdido para sempre, o amor que não se corresponde.
Qual o sacrifício maior
de Cristo, o homem: o pesadelo físico, suspenso na cruz por mais ou menos
quatro horas, ou o pesadelo espiritual: a dúvida sobre o abandono do Pai, berrada
da cruz; a incompreensão dos apóstolos quanto à importância da ceia que era
última, quando por fim adormeceram; Pedro, o amigo, a negá-lo por três vezes
antes do alvorecer?…
A dimensão da dúvida
humana é sublime e poética. Tal como a luz deste filme e a dor superior dos
rostos de Cristo que vão surgindo através de cenários nus como esculturas. A
expressão angustiada de Cristo é caricatural e fantasmagórica. Quase risível,
como o sarcasmo do acólito e do organista.
Quando o amor termina
onde ficará a pairar a sua alma?
Será que o silêncio de
Deus corresponde ao seu vazio quando se descobre que a morte é simplesmente o
fim coincidente do corpo e da alma?
Nada há a dizer sobre
este filme.
jef, junho 2015
«Luz de Inverno»
(Nattvardsgästerna) de Ingmar Bergman (1963). Com Ingrid
Thulin, Märta Lundberg, Gunnar Björnstrand, Gunnel Lindblom, Max von Sydow,
Allan Edwall.