terça-feira, 30 de outubro de 2018

Palavrosa









Sinédoque tão palavrosa
que usas em desatino
o todo pelas respectivas partes iguais.
És a tripla ficha de energia furiosa
a desarrumar sem destino
os contentores fora dos nossos terminais.

jef, outubro 2018

domingo, 28 de outubro de 2018

Sobre o disco «Vai e Vem» de Márcia, Márcia / Warner, 2018
















São doze temas de um certo pop-lento, quase slow-dance, que parecem vir de um tempo em que não havia problema em misturar o lado sinfónico da orquestra e o princípio rock da guitarra eléctrica.

Quase todas as canções são mínimas e não excedem os 3 minutos e meio, como se estivessem prontas para ser incluídas, duas a duas, no lado A ou no lado B de um single. Momento, pausa e batida, coros longínquos, eco imperceptível e uma ternura esbatida, uma triste nostalgia por algo que já não volta ou que se deseja esquecer. Quase última valsa. Perfeito para concluir a noite quando o barman ou o disco-jockey começa a olhar para as horas.

Quase todas mínimas, quase, pois «Vai e Vem» deve dar espaço ao conjunto orquestral das cordas, permitindo depois a entrada discreta mas ainda mais cénica e acústica da guitarra; e «Ao Chegar» que cumpre o caminho certo e longo da guitarra que, não fosse eléctrica, quase viria cumprir algum desígnio de certo trip-hop esquecido.

Tudo parece antigo, íntegro e sincero, e acima de tudo calorosamente pop, sem medo das palavras inteligentes em rimas que facilitam o movimento, esse modo de dançar uma angústia, ou saltar por cima de uma ausência. Porém, tudo isto, hoje em dia, sem baias ou dogmas, é muito moderno! 

Bem diz Manuel Halpern, no Jornal de Letras de 24 de Outubro, e com ele repito: os duetos com António Zambujo, Samuel Uria e Salvador Sobral são bons, mas se não existissem, as canções de Márcia permaneceriam com força igual, o mesmo cariz.

Um bom disco que se ouve sem cessar.

jef, outubro 2018

Sobre o filme «Feliz como Lázaro» de Alice Rohrwacher, 2018













Bem vistas as coisas, o filme, com a devida divulgação e a antiga e bela moda das salas de cinema cheias, poderia recolher os mesmos sucesso e amabilidade populares que tiveram filmes como «O Carteiro de Pablo Neruda» (Michael Radford, 1994) e «Cinema Paraíso» (Giuseppe Tornatore, 1988). Pelas mesmas razões, talvez deixará os críticos sem saber se devem gostar mas dizer um pouco mal do filme ou, pelo contrário, não gostar assim tanto porém sublinhar-lhes os atributos.

No último Festival de Cannes recebeu o prémio de Melhor Argumento, e com toda a justiça. «Feliz como Lázaro» tem a boa marca dos filmes italianos que atraem de modo sonoro e estético (penso que será também o poder amoroso do som daquela língua) entretendo pela teia narrativa, pela enérgica correria dos actores, pela feia beleza dos cenários.

Os espectadores entram a meio da história e a realizadora coloca-os logo na inviolada aldeia Inviolata, frente a uma serenata nocturna, dentro de um casebre a transbordar de velhos, novos e crianças. Apenas uma lâmpada para vários quartos. São actores e não actores misturados a dar corpo à alegre tragédia de não haver comida. Estamos na propriedade da rainha dos cigarros e do resto, a Marquesa Alfonsina de Luna (Nicoletta Braschi).

No centro, com poucas palavras e em constante movimento, circula uma espécie de tolo-querubim, um faz-tudo-tudo-aceita, que se move a mando alheio, apenas pela bondade de ajudar. E de todos entender. O seu nome, Lázaro (Adriano Tardiolo). E compreender-se-á depois por que razão.

Lázaro também ajuda Tancredi (Luca Chikovani), o filho mimado da marquesa. Nasce ali uma amizade que se manterá através do tempo.

Seguidamente, uma nova época rodeia Lázaro, e aí, uma dupla de actores transforma novamente o percurso do protagonista e o do espectador: Alba Rohrwacher (Antonia) e Sergi Lopéz (Ultimo). O filme, por mim, está ganho!

«Feliz como Lázaro» é uma comédia dilacerada sobre a pobreza, a circulação restrita da riqueza, a expansão sistemática da escravatura. O filme começa como uma história vinda do realismo literário, empenhado e romântico, do século XIX mas termina de modo voraz nas tenazes afiadas do nosso próprio século XXI.

jef, outubro 2018

«Feliz como Lázaro» (Lazzaro felice) de Alice Rohrwacher. Com Adriano Tardiolo, Agnese Graziani, Luca Chikovani, Nicoletta Braschi, Alba Rohrwacher, Sergi López, Natalino Balasso, Tommaso Ragno. Itália, 2018, Cores, 125 min.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Sobre o filme «Happy Hour: Hora Feliz» de Ryûsuke Hamaguchi, 2015
















Este filme é estranho.
Deixa-nos uma sensação de incómodo, distância, silêncio agressivo. A impressão de que estamos a olhar a sociedade através da lupa lenta e minuciosa de um etólogo ou antropólogo que estuda o aquário, o terrário, o jardim zoológico, a cidade.

Quatro amigas de longa data vão descobrindo, revelando, falando, rodando sobre si próprias, circulando numa vida que parece esconder uma conclusão. Ou um início. Todas andam em suspenso, na dependência do modo masculino, aceitando-o ou rejeitando-o, mas evitando o diálogo ou o confronto.

As refeições terminam invariavelmente com segredos afirmados de modo confrangedor. São todos educadamente inconvenientes. Claro que as actrizes que interpretam Akari, Sakurako, Fumi e Jun, respectivamente Sachie Tanaka, Hazuki Kikuchi, Maiko Mihara, Rira Kawamura, merecem totalmente os prémios que receberam por darem corpo a personagens à beira de uma ruptura tão «reprimida», numa sociedade tão «intocável», com um percurso de cedência perante a revolta que não consegue mais ser reprimida.

Contudo, repito, fico com a estranha sensação de ter assistido a uma simples cine-novela de 5 horas e 17 minutos de duração, onde «tudo» anda em torno de um certo «quase nada».

Talvez defeito meu.

Que saudades fiquei de Hirokazu Koreeda, Takeshi Kitano, Akira Kurosawa, Nagisa Oshima, Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi, que nos fazem crer que o Japão  
é um poço emocional de criatividade, as suas refeições um polo delicado de afecto e compreensão, que a sua tradição histórica, por mais diferente que seja, transporta-nos para o coração estético de uma humanidade que é una e indivisível.

Nota: a banda sonora é fantástica!

jef, outubro 2018

«Happy Hour: Hora Feliz» (Happî awâ) de Ryûsuke Hamaguchi. Com Sachie Tanaka, Hazuki Kikuchi, Maiko Mihara, Rira Kawamura. Japão, 2015, Cor, 317 min.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Sobre o livro «O Papagaio de Flaubert» de Julian Barnes. Quetzal, 2010. Tradução: Ana Maria Amador.

 













A questão do papagaio embalsamado.
O espécime que faz companhia a Gustave Flaubert enquanto escreve «Un Coeur Simple» e que vai acompanhar Félicité. Chamado ‘Lulu’. Também este, na história, acaba embalsamado a sobrevoar o sonho final da pobre alma. Afinal, quantos animais empalhados existirão entre Ruão e Croisset? Geoffrey Braithwaite é um académico estudioso, fã, quase groupie, do autor francês que contestava a popularidade do autor em detrimento da leitura da respectiva obra. Julian Barnes segue Geoffrey Braithwaite que segue Gustave Flaubert até à coloração desmaiada das penas dos diversos ‘Lulu’.

O que espanta neste livro é, exactamente, esta tropelia irónica de Julian Barnes em levar-nos pelo caminho intenso, tortuoso, contraditório, implicativo, aparentemente misógino, quase misantropo, mas inteligentíssimo, do autor de «Madame Bovary», fazendo-nos acompanhar o percurso de Braithwaite que, de modo muito sagaz, lembra a história de Ema e Carlos Bovary.

Pelo meio, temos a sátira a académicos e críticos literários, a análise cirúrgica de um autor e de uma época literária absolutamente fascinantes.
Um romance arguto e minucioso para quem gosta de literatura.
Julian Barnes é um escritor fundamental.
Gustave Flaubert, claro, também.
      
jef, outubro 2018

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Sobre o livro «Os Alferes» de Mário de Carvalho. Caminho, 1989 (3ª edição)















Considerado um clássico, contém três dos textos breves de Mário de Carvalho. Esses contos quase novelas que deixam a sensação no leitor de ter lido longos e frutuosos romances. A contenção no número de palavras face ao narrado e descrito, desenvolvendo por artes e manhas de vocábulos certeiros, verbos incisivos e substantivos que muito adjectivam, tem o estranho e inclassificável poder de fazer acreditar no que se lê transportando-nos para os interstícios de um passado por que nunca passámos.

Mais do que a guerra (no ambiente colonial português), estes textos desvendam o lugar da morte e a distância a que o protagonista (e por sua via o leitor) dela se encontra. Os alferes, o centro das narrativas, são entes por idade e formação técnica e política, distantes dos graduados de carreira ou dos soldados que entram na guerra por mandato de inconsciência; distantes dos seus corpos e almas, das suas perspectivas profissionais e percursos familiares. Homens distantes que observam a morte do lado de fora, ou talvez de um lado de fora demasiado interior, explicando-nos a história como «ouvintes» que também o são. O humor, uma tecla primordial no escritor, é usado de modo agudo aumentando a compreensão crítica dos planos narrativos e apartando protagonistas e leitores.

Seria pecado, negando o prazer à leitura, ditar algo que desvendasse a intriga, nobremente urdida, subtraindo o espanto de certo modo mágico que o leitor sofre ao chegar às últimas páginas. Mestre do suspense é Mário de Carvalho.

Apenas pode dizer-se que esses tempo e espaço que separam a morte (e a guerra) no primeiro texto são vistos pelo alferes ao ser colocado num extemporâneo aquartelamento de cavalaria. Como de uma plateia de cinema. Enquanto no segundo conto, o espectador, alferes, público, é situado, imóvel, num bimotor a caminho de Baucau ao lado de um major «suspeito» que lhe vai contando uma história em jeito xerazádico, tal como Stefan Zweig tanto gosta de fazer nas suas novelas. Por último, a distância e o tempo encurtam-se desmedidamente mas o terceiro alferes permanece do lado de fora, totalmente fora de si. Como peixe fora de água, rente às suas botas, ao capim. Fora do seu mundo, do mundo da guerra, do mundo da morte. Lembrei-me de um dos contos de Boris Vian em «As Formigas».

Um assombro narrativo.

jef, outubro 2018                                                               

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Sobre o filme «Ingmar Bergman - A Vida e Obra do Génio» de Margarethe von Trotta, 2018
















Se Margarethe von Trotta tivesse cumprido o desígnio do seu reverente, talvez um pouco melodramático e parcial, documentário sobre o Mestre Bergman, conforme ameaçou na sequência inicial comentando plano por plano, quase como leitora de guião, as cenas enigmáticas e brilhantes de «O Sétimo Selo», o filme estava ganho.

Se tivesse seguido o maravilhoso guião publicado de «Fanny e Alexandre» (1982); tocado mais fundo o livro «A Lanterna Mágica» (1987); olhado com mais concentração o humor mordaz de tantos dos seus filmes; suspendido o olhar sobre as esplêndidas fichas publicadas pela Cinemateca Portuguesa de tais filmes, Margarethe von Trotta teria ganho o filme!

Se tivesse evitado um pouco mais as polémicas familiares e fiscais, que pouco interessam para o contínuo êxtase com que revemos a obra de Ingmar Bergman; atentado mais no futuro de uma cinematografia ímpar e não se tivesse perdido na sua própria nostalgia; usado o estatuto da geração de ouro do cinema alemão pós-guerra, de que a própria realizadora faz parte, todos nós teríamos ganho.

Mas Ingmar Bergman resiste a tudo. É extraordinário!

Aconselho vivamente Margarethe von Trotta a analisar com extrema atenção o filme «Onde Jaz o teu Sorriso?» de Pedro Costa (2001) sobre a obra de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet e o filme «Sicília» (1999).

jef, outubro 2018

«Ingmar Bergman - A Vida e Obra o Génio» (Searching for Ingmar Bergman /Ingmar Bergman - Vermächtnis eines Jahrhundertgenies) de Margarethe von Trotta & Felix Moeller. Documentário. Alemanha, França, 2018, Cor, 99 min.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Sobre o livro «Aventuras de João Sem Medo» de José Gomes Ferreira (1933 / 1963). Colecção BIS / Leya 2015 (9ª Edição)















Duvido que o realizador M. Night Shyamalan tivesse lido «Aventuras de João Sem Medo» quando filmou «A Vila» (2004), esse estranho ermo murado, de onde era difícil sair, repleto de medos inventados e moral agressiva e subserviente. Se o tivesse feito teria sorrido certamente com a analogia da fantasia de José Gomes Ferreira. Um livro a que o autor deu o mote de “Panfleto Mágico em Forma de Romance”.

A vila neste caso chama-se Chora-Que-Logo-Bebes e é descrita logo no primeiro capítulo do folhetim: «Tudo isto incitava os habitantes da aldeia a andarem de monco caído, sempre constipados por causa da humidade, e a ouvirem com delícia canções de cemitério ganidas por cantores trajados de luto, ao som de instrumentos plangentes e monótonos.» Claro que João Sem Medo foge logo à segunda página desta triste povoação e da sua mãe lacrimosa.

José Gomes Ferreira entretém-se com uma extraordinária colecção de adjectivos classificando os dois lados do Muro. «E as fontes embaladoras desdobravam o seu vagaroso sussurro de tédio dormente. […] De tal forma que resolveu acordar-se com dois ou três gritos e insultos que vararam a Floresta Adormecida:
– Então aqui não vive ninguém? Nem nereidas, nem faunos, nem gnomos, nem nada? Foi para esta pasmaceira que eu escalei o Muro, digam lá?»

E o tom de alegre acrimónia contra o tom melífluo dos contos de fada vai crescendo em João Sem Medo, através dos diversos episódios inicialmente publicados no periódico «O Senhor Doutor», em 1933. Uma paródia sem tino a cruzar as ‘Viagens de Gulliver’ e o ‘Principezinho’, onde a coragem, essa força que vem do coração, é atravessada de peripécias mirabolantes com ‘bichos-meio-máquina-meio-divindade-Grimm’, e fins abruptos e escanifobéticos, ao estilo deus ex-machina, pois os caracteres estariam a esgotar-se. Textos enfim publicados em livro em 1936.

Este livro é mesmo muito interessante, e não é só por essa desfaçatez anti-dogma literário que faz o autor divertir-se divertindo os leitores através da criação de um mundo libertário e anarquista, quixotesco, que goza com qualquer Plano Nacional de Leitura que obriga a ler quem não quer ler, contestando igualmente o fato apertado de um realismo-neo-realista que não lhe assenta por medida.

Claro que este maravilhoso conjunto de 15 episódios contém duas pérolas absolutas da literatura psicológica e social. «O Príncipe das Orelhas de Burro» e «Os Três Incompetentes Triunfantes». Se não estão incluídos nas antologias de contos é um crime de lesa literatura.

E no final há uma nota essencial e tão actual do próprio autor (1973) sobre uma certa vida cultural deste país do Chora-Que-Logo-Bebes e que assim termina:

«Bruxas? Não existem – dirão os senhores peremptórios, naturalistas e suficientes.
Pois não.
Mas a caça às bruxas, isso afirmo-vos eu que há.»

jef, outubro 2018

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Sobre o filme «Meia-Noite em Paris» de Woody Allen, 2011
















No filme de Woody Allen de 2011, algumas coisas devem deixar perplexos os críticos mais ferozes e adoçar o espírito dos espectadores mais cépticos.

Este filme é dos mais benévolos e românticos dos últimos anos do realizador, contudo contém toda aquela acrimónia humorística e «antiamericana» tão deliciosa em Woddy Allen. Tudo quanto é americano parece tolo, todo a cidade de Paris é deslumbrante, dourada e terna. Atente-se na inicial e carinhosa longa paisagem de sol-a-sol em jeito de introdução, em jeito de «videoclip».

Gil (Owen Wilson) é um escritor americano e deseja instalar-se numa Paris literária, culta e desaparecida. Leva lá a noiva Inez (Rachel McAdams) e os sogros. Mas a coisa corre mal. À meia-noite ele entra sistematicamente na máquina do tempo  transportando-o ao que é apenas o sonho urgente de uma Paris hiperactiva. Espanta-se com F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston), Zelda Fitzgerald (Alison Pill), Cole Porter (Yves Heck), Ernest Hemingway (Corey Stoll), Josephine Baker (Sonia Rolland), Pablo Picasso (Marcial Di Fonzo Bo), Salvador Dalí (Adrien Brody), Man Ray (Tom Cordier)… Gil entrega o seu manuscrito a Gertrude Stein (Kathy Bates), encanta-se por Adriana (Marion Cotillard), não desdenha a guia intérprete de um museu (Carla Bruni). Deseja sempre voltar mas ultrapassa o tempo e chega à Belle Epoque. Mas deve regressar a Paris de hoje. Deixa Inez e encanta-se por uma simples vendedora de vinis de Cole Porter (Léa Seydoux).

Neste filme tudo é muito simples, nostálgico, caridoso e terminante… Lembra certa atmosfera maravilhosa de «A Rosa Púrpura do Cairo» (1985), lembra filmes bondosos de Frank Capra ou Aki Kaurismäki. Encanta esse lado do coração com que Woody Allen também toca a arte maior, sem sofisma ou sarcasmo. Talvez seja isso que deixe os pés atrás aos críticos e deleita os espectadores.

jef, outubro 2018

«Meia-Noite em Paris» (Midnight in Paris) de Woody Allen. Com Owen Wilson, Rachel McAdams, Marion Cotillard, Tom Cordier, Adrien Brody, Kurt Fuller, Marcial Di Fonzo Bo, Sonia Rolland, Mimi Kennedy, Yves Heck, Alison Pill, Tom Hiddleston, Michael Sheen, Nina Arianda, Carla Bruni, Corey Stoll, Kathy Bates, Léa Seydoux. EUA / Espanha, 2011, Cores, 94 min.