Na noite do dia 3 de maio de 2025, descemos ao negro Cine-Teatro
Turim para celebrar com os Decline and Fall o desvendar do que estará por trás
da porta fechada, o que se esconde para lá do nevoeiro, aquilo que a cortina de
água no vidro vai deformando.
É o primeiro concerto. As 80 cadeiras de veludo vermelho
fazem de contraponto visceral ao negro do palco, talvez ao cabedal negro do
público. Um público que sabia e ansiava pelo que iria assistir, comovida (ou
inebriada) pela celebração colectiva. Afinal, é sempre na família que se revela não o vermelho do veludo das cadeiras mas o do coração.
Ali estavam no palco pequeno mas ampliado pelos vídeos de Rui Veiga que aprofundavam a abstracção sonora: Armando Teixeira, Ricardo S. Amorim e Hugo Santos. Uma caixa de música ou caixa de ressonância para esse ambiente ectro-romântico chegado dos EP «Gloom» e «Pulse» (2024) e do recente LP «Scars and Ashes» (2025). Começando pelo denso caminhar sinfónico de «As All Ends» até a versão de «Warm Leatherette» regressado, cinquenta anos depois, dos The Normal com aquele quase demente refrão.
Pois é evidente, e contrariando a canção que abre último álbum, nada assim acabará. Nem punk “sinfónico”, muito menos gótico “progressista”. Qualquer classificação arrepia e irrita, quase agonia, para além de não termos tempo de procurar a prateleira certa onde os colocar. A nossa memória deve agora esquecer. É necessário escavar as camadas emocionais do xisto estratificado ou do granito eruptivo para ir encontrar o pulsar encarnado dos corações dos Decline and Fall. Ao vivo, fica mais audível e visível: eles buscam o passado para o ir declarar à parede volátil do futuro.
Lá nos encontraremos!
jef, 3 de maio de 2025
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