À pala de Quentin Tarantino.
Até
que a Disney podia ter produzido o filme onde a personagem principal é um
gatinho fofo, que vai resolvendo a cada passo uma intriga bem arquitectada dentro de um
bairro pobre de Nova Iorque, nos finais dos anos 90 do século passado. O gato
tem a custódia partilhada entre dois vizinhos: um quase imberbe Hank Thompson (Austin
Butler) a trabalhar num bar após um terrível acidente de automóvel que roubou a vida ao seu melhor amigo e destruído uma promissora carreira de basebolista, e Russ (Matt Smith) que,
em modo punk, parece ter umas quantas visitas indesejáveis ao domicílio. Este tem
de se ausentar por causa da doença terminal do pai, que muito ama, deixando o
gato ao cuidado de Hank, que todos os dias telefona a sua mãe, que muito ama.
No final, tudo acaba em bem e Hank e o gatinho partem para uma estância balnear
algures no magnífico planeta caribenho.
Bem, talvez
a Disney tivesse que cortar as imagens ultra-violentas dos choques frontais com
árvores e postes; talvez também tivesse algo a dizer sobre a profusão de mortes
que sistematicamente perseguem o angelical Hank Thompson, tudo com bastantes
litros de sangue a escorrer pelo soalho ou mesmo sobre a sutura feita com cola de contacto
após os chantageadores lhe terem arrancado os pontos a sangue frio, isto depois de lhe terem batido
ao ponto do herói ficar sem um rim; talvez aquela produtora rejeitasse ainda a quantidade de mauzões "politicamente incorrectos" – russos (eslavos), latinos, judeus ortodoxos e,
claro, uma polícia americana corrupta e maléfica.
Afinal, quase tudo morre mas nós ficamos felizes com o happy end desta comédia sangrenta! Um
ponto muito a favor deste filme contra a regra hollywoodesca do “quanto mais
lixiviado melhor”.
Outro
ponto a favor são as interpretações de Regina King, a investigadora policial Roman,
e Zoë Kravitz, a resistente namorada de Hank, Yvonne. Quando surgem parece absorverem
totalmente as cenas, eclipsando tudo o resto.
Claro que antes da cena final, surgirá de raspão uma cara inesperada, uma cara muito Lynchiana. Viva!
Sabe
sempre bem ver um filme à pala de Quentin Tarantino.
jef,
setembro 2025
«Apanhado
a Roubar» (Caught Stealing) de Darren Aronofsky. Com Austin Butler, Dominique
Silver, Shaun O'Hagan, Action Bronson, Jake Bentley Young, Zoë Kravitz, Kitty
Lawrence, Matt Smith, George Abud, Nikita Kukushkin, Yuri Kolokolnikov, D'Pharaoh
Woon-A-Tai, Will Brill, Oleg Prudius, Regina King, Gregg Bello, Liev Schreiber,
Vincent D'Onofrio, Eddie De Harp, Laura Dern, Macy Rodman, Bad Bunny, Henry
Wong. Argumento e romance de Charlie Huston. Produção: Darren Aronofsky e Dylan Golden. Fotografia:
Matthew Libatique. Música: Rob Simonsen. Guarda-roupa: Amy Westcott. EUA, 2025,
Cores, 109 min.