O
passo do pássaro.
No
terceiro volume de «As Mil e Uma Noites: Volume 3 – O Encantado», Miguel Gomes
terá ficado encantado pelas histórias que Xerazade foi contando na roda gigante
de Marselha, deixando o filme alongar-se entre a ameaça das noites que terminam
e as auroras que concedem um dia mais de vida.
Pode
o realizador, entre o soberbo material sobre os passarinheiros de Chelas,
Camarate, e até da Linha, ter ficado tão enfeitiçado que não teve coragem de o
truncar. Ganha o documentário, os rostos, as figuras maravilhosamente filmadas.
Perde a ficção e a história.
Mas
isto nada importa quando, no final dos três volumes, surge uma das cenas mais
belas que eu vi no cinema. Chico Chapas, após passarinhar, solta das redes um
velho génio que já não voa nem transporta vento presunçoso. Depois segue
caminho entre os campos primaveris dos arrabaldes de Lisboa, amado pelo
espírito de Cesário Verde.
Chico
Chapas segue a sua vida! Em silêncio, concentrado no objectivo, resistindo, obstinado
e perseguido pela natureza. Pela beleza.
Não
será melhor seguirmos nós o exemplo? E quanto antes...
jef,
outubro 2015
“As Mil e Uma Noites:
Volume 3 – O Encantado” de Miguel Gomes, 2015. Com Miguel Crista Alfaiate,
Bernardo Alves, Chico Chapas, Carloto Cotta, Américo Silva, Gonçalo Waddington.
Portugal / França / Alemanha / Suiça, 125 min.