sexta-feira, 30 de junho de 2023

Sobre o filme «Asteroid City» de Wes Anderson, 2023







América (três anos antes de eu nascer, dez anos depois da Grande Guerra terminar). 

O deserto e as experiências nucleares; o plástico e os tupperwares; o progresso, os electrodomésticos e a nova família burguesa; a suspeição, a vigilância, o macartismo (e Arthur Miller denunciado por Elia Kazan); os super-bébes, a nova ciência; a guerra dos mundos, a guerra fria, a conquista do espaço e os nossos amigos extra-terrestes… 

E Tom Hanks, Tilda Swinton, Edward Norton, Adrien Brody, Steve Carell, Matt Dillon, Willem Dafoe ou Jeff Goldblum…

E a música de Alexandre Desplat e os cenários coloridos em jeito Meccano e os ruídos captados e passados por filtros como nas emissões de rádio e os diálogos que nem tempo temos de absorver e observar.

E ainda, claro está, Scarlett Johansson (e a sombra de Marilyn Monroe)!

O Mundo acrobático de Wes Anderson. Um filme a ser visto no primeiro balcão do cinema Monumental.

 

jef, maio 2023

«Asteroid City» de Wes Anderson. Com: Jason Schwartzman, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Jeffrey Wright, Tilda Swinton, Bryan Cranston, Edward Norton, Adrien Brody, Liev Schreiber, Hope Davis, Stephen Park, Rupert Friend, Maya Hawke, Steve Carell, Matt Dillon, Hong Chau, Willem Dafoe, Margot Robbie, Tony Revolori, Jake Ryan, Jeff Goldblum. Argumento: Wes Anderson, Roman Coppola. Produção: Wes Anderson, Jeremy Dawson, Steven Rales. Fotografia: Robert D. Yeoman. Música: Alexandre Desplat. Guarda-roupa: Milena Canonero. EUA, 2023, Cores, 104 min.

 


domingo, 25 de junho de 2023

Sobre o livro «O Diabo» de Gonçalo M. Tavares, Bertrand 2022










O caderno 47 do autor aprofunda a secção “Mitologias” da sua Biblioteca, talvez o conjunto das suas obras (com «A Mulher-Sem-Cabeça», 2017, e «Cinco Meninos, Cinco Ratos», 2018) mais estranhamente amoral.

Contudo, em Gonçalo M. Tavares, existe um princípio permanente de descoberta da linguagem. E esse princípio tem um lado sistemático muito próximo do lado lúdico que a leitura possui em génese.

É a interpretação da própria cadência das frases, o modo como as imagens simples mas fortíssimas surgem sem explicação, o desfilar de dezenas de personagens que utilizam a maldade como arma do poder, provocando o medo e desaustinando os protagonistas. Neste caso (como no livro anterior desta série), regressa a educação pela força dos irmãos Alexandre, Olga, Maria, Tatiana e Anastácia. Uma educação que inclui a domesticação do Diabo que com eles se senta à mesa.

Mas essa domesticação dos Meninos ou educação do Diabo passa sempre pela catalogação de imagens sucessivas, como acontecia quando se ouviam as histórias “desmoralizadoras” (mas de encantar) dos Irmãos Grimm ou os contos populares portugueses reunidos por Adolfo Coelho, Maria Amália Vaz de Carvalho ou Gonçalves Crespo. Os cenários, os objectos, a relação de forças e acções são encadeadas para provocar uma espécie de alucinação viril ou de materna admoestação. Sempre física, apesar de onírica.

Para ler Gonçalo M. Tavares (e “Mitologias” em particular) é necessário, em primeiro lugar, colocar a leitura num espaço cósmico sem limites, onde a amoralidade da narrativa, o escantilhão estético e afecção das imagens representam o permanente reinício do nosso abecedário.


«E quando o Grande-Pânico é atirado para cima de um Povo-Inteiro, como antes se atirava, das muralhas do castelo, óleo quente para a cabeça dos invasores, mil pés querem ir para mil direcções e assim isolados serão caçados como as ovelhas são caçadas pelos lobos famintos – e é por isso que Os-Meninos-com-os-Pés-para-Dentro são quase santos, porque orientam e salvam quando o Povo-Inteiro está perdido na floresta ou no Grande-Pânico.»

 jef, junho 2023

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Sobre o livro «O Bode Expiatório» de Raymond Chandler. Livros do Brasil (1958). Colecção Vampiro 147. Tradução de Mascarenhas Barreto.










Não será o melhor livro de Raymond Chandler. 

Philip Marlowe Vê-se contratado ou subcontratado pelo advogado Clyde Umney para que descubra o paradeiro de Eleanor King, ou melhor, Betty Mayfield. Mas acaba num intricado jogo de peripécias, perseguições e chantagens sequenciais das quais, afinal, não lucrará assim tanto. Bem, um facto é que, a Betty Mayfield, Marlowe parece ter uma preferência pela desenvolta, deslumbrante, secretária de Umney, Miss Vermilyea com o seu Fleetwood Cadillac.

Contudo, um romance de Raymond Chandler é sempre um marco nessa luta obstinada em colocar descrições ou narrações de alto estilo em livros de comprar em estações de comboios para no final da viagem (não) deitar fora. Basta tomar alguma atenção à descrição social da povoação mais ou menos abastada de Esmeralda, cuja história lhe é contada por Fred Pope. Ou ao encontro, num soturno restaurante meio-fechado com o chantageador-mor, burgesso e palitador de dentes, Goble. Ou à filosófica conversa com o observador aristocrata Mister Clarendon IV. Cada trecho destes é, por si, um enredo. Cada encontro com uma mulher é uma verdadeira intriga.

Se ficamos um pouco desiludidos com as reviravoltas que o livro dá no final para coser as linhas do argumento, isso já pouco importa. O prazer da leitura já garantiu o sucesso dno tempo despendido.


jef, junho 2023

Sobre o filme «Chile, 1976» de Manuela Martelli, 2023

 




 














É necessário não esquecer o Chile, Salvador Allende, Augusto Pinochet, o fascismo e o golpe militar de 1973.

Chile, 1976.

Carmen (Aline Küppenheim), senhora rica, boas famílias, cooperante da Cruz Vermelha, casa de praia e marido médico, vê-se a braços com o pedido de ajuda de um velho pároco amigo para ajudar a tratar um jovem revoltoso, baleado, que ele albergou, às escondidas.

Este filme de estética, cores, adereços e guarda-roupa tão requintados, coloca a maravilhosa actriz Aline Küppenheim no centro acção e do medo enraizado. Também da solidariedade, da dúvida, da perseguição, da morte, da suspeita. Carmen, voluntariosa e justa, coordena um clube de leitura na paróquia para cegos e tem a cargo as férias dos três netos. Pela sua moral, obstinação e curiosidade, vai ajudar o jovem Elías (Nicolás Sepúlveda) e envolve-se num mundo à parte que é totalmente alheio ao seu. No entanto, leva até ao fim a demanda a que se propôs.

Um filme inteligente e denso, mas muito simples, para quem ainda tenha dúvidas sobre as melhores causas da democracia e da sagrada liberdade.


jef, junho 2023

«Chile, 1976» de Manuela Martelli. Com Aline Küppenheim, Nicolás Sepúlveda, Hugo Medina, Alejandro Goic, Carmen Gloria Martínez, Antonia Zegers, Marcial Tagle, Amalia Kassai, Gabriel Urzúa, Luis Cerda, Ana Clara Delfino, Elena Delfino, Salvador Guenel, Vilma M. Verdejo, Mauricio Pesutic, Yasna Ríos, Francisco Ossa, Elvis Fuentes. Argumento: Manuela Martelli, Alejandra Moffat. Produção: Alejandra Garcia, Juan Pablo Gugliotta. Fotografia: Soledad Rodríguez. Música: Mariá Portugal. Guarda-roupa: Pilar Calderon, Gabriela Varela Laciar. Chile / Argentina / Qatar, 2023, Cores, 95 min.

 

domingo, 18 de junho de 2023

Sobre o livro «Trilogia» de Jon Fosse. Cavalo de Ferro, 2022 (2014). Tradução de Liliete Martins.










Poder-se-ia dizer (sou eu que poderei dizer, que não entendo nada de literatura, excepto do prazer da sua leitura) que pelas terras frias do Norte, entre ilhas, glaciares e fiordes, existe uma espécie de rumo literário que me apetece apelidar de fantasia realista. No sentido oposto àquela outra espécie de realismo fantasioso de Gabriel Garcia Márquez, Julio Cortázar ou Juan Rulfo. A diferença estará substancialmente assente nas condições edafo-climáticas das duas regiões, dos dois continentes. Porém, a proximidade imaginativa, e a vocação de saltar para fora da realidade, tantas vezes constrangedora, é semelhante.

Quando lemos “A Saga de Gösta Berling” de Selma Lagerlöf (1891), “Fome” de Knut Hamsun (1890) ou “A Noite do Professor Andersen” de Dag Solstad (1996), entramos num mundo supostamente realista mas que possui os pés aprisionados num vago delírio ébrio constituído pela solidão, privação, álcool, religião e pura fantasia onírica. Tudo pode ser real como tudo pode vir de uma alucinação provocada pela fome ou pelo gelo ou pela necessidade de evasão.

Por que será que, na segunda novela de Trilogia “Os Sonhos de Olav”, Asle passa a chamar-se Olav e Alida, Asta? Onde estará o pequeno Sigvald? Poder-se-á dizer que os sonhos de Olav correspondem ao seu presente, enquanto, ao abrir, “Vigília” será um passado inexplicado, uma fuga desesperada, a origem de um amor fulcral, de uma sobrevivência brutal. Por fim, “Fadiga” representa o cansaço inevitável do futuro, a história por contar do pequeno Sigvald, a redenção de uma paixão que será eterna porque trágica, como nas velhas histórias bíblicas.

Um belíssimo texto cruzado e costurado com o génio da subtileza e do encanto, repetindo os nomes e os lugares para que o fio da meada não perca os seus leitores (como nas antiquíssimas odisseias mediterrânicas), retirando os pontos finais para que a continuidade se torne poética, onde os diálogos sintéticos, firmes, lógicos e absurdos, misturam a fórmula directa e indirecta para que se tornem a base oral desta bela história de todos os tempos. (Como se Gonçalo M. Tavares tivesse incluído “Amor” como palavra-chave para uma nova entrada da sua biblioteca).

«Trilogia» é uma fábula antiquíssima sobre o poder da paixão e uma comovente descoberta.


jef, junho 2023

sábado, 17 de junho de 2023

Sobre o livro «Um Lugar ao Sol seguido de Uma Mulher» de Annie Ernaux. Livros do Brasil, 2022 (1984-1988). Colecção Dois Mundos. Tradução de Eduardo Saló.










Como sobreviver à morte do pai e da mãe. Como reconhecer o facto de que desapareceu para sempre o reservatório que sustentava as raízes na nossa memória. Como entender a carga da ausência total desse amor, a subtileza emocional dos remorsos associados à inevitável incapacidade de os ter compreendido nos seus erros como pessoas independentes do nosso ser. Como esquecer as nossas falhas, a nossa vergonha, o nosso desespero ao querermos, a todo custo, saltarmos para fora do seu controlo afectivo, das suas limitações e tristezas.

Ao contrário de Julian Barnes em «Nada a Temer» (Quetzal, 2011), que descreve também, ao pormenor, essa descida perniciosa ao entendimento impossível de um passado definitivamente inexorável, mas sempre com a louca tendência britânica para o humor, Annie Ernaux, em «Um Lugar ao Sol» dedicada à morte e consequente vida de seu pai, trabalhador, sonhador, envergonhadamente orgulhoso, e «Uma Mulher» sobre a tenacidade matriarcal de uma mulher em levar até ao último minuto a sua avante, faz a autora uma espécie de acto de contrição e de reavaliação emocional e moral do seu próprio comportamento face à morte e vida dos seus pais.

Annie Ernaux nunca expõe o seu passado, nem a própria intimidade, mas propõe uma espécie de estudo clínico, entre o histórico e o psicanalítico, de uma Normandia onde a fome e a guerra marcaram o tempo do comércio e da sobrevivência, colocando a sua própria personagem como motor narrativo e descritivo.

Contudo, dois "estudos históricos e psicanalíticos" ensopados da fibra emocional ou do nervo incorrigível com que a morte dos pais nos marca para sempre.

jef, junho 2023


sexta-feira, 16 de junho de 2023

Sobre o livro «Maigret e a Casa do Juiz» de George Simenon. Livros do Brasil, 1990 (1931). Colecção Vampiro n.º 513. Tradução de Samuel Soares.


 









George Simenon sempre deposita grande esperança na inteligência emocional, diria melhor, na inteligência afectiva do inspector Maigret. Tem dele ainda maior consideração pois foi retirado de Paris e exíilado na pequena Luçon, que apenas possui um café fumarento e um posto de polícia onde o inspector Méjat empesta o ar com a sua super-brilhantina. E a pituitária de Maigret, como todos nós sabemos, é particularmente sensível.

Que importa se o juiz Forlacroix, que vive actualmente numa grande mansão perto da aldeia piscatória de Aiguillon, tem um cadáver estendido no soalho e um outro retido na memória? Que importa se o juiz passou na juventude por Versalhes, e a vida que levam os seus dois filhos? Quem quer saber a identidade do assassino?

O que nos interessa (e que tanto diverte Simenon, que tão bem e descreve) é o poder de decisão de Adine Hulot, esposa do ex-guarda fronteiriço, vesgo e bem-mandado, Justin Hulot. Melhor, Didine, como é a velha senhora por todos apelidada, carinhosamente ou sarcasticamente.

Pois Didine, assertiva e dirigente, sabe tudo o que se passa em Aiguillon-sur-mer ao mais ínfimo pormenor, público ou privado.

Como é óbvio, Didine também manda em Maigret.

Didine é a rainha da festa e o centro do romance.


jef, junho 2023

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Sobre o livro «Estátua de Sal»» de Maria Ondina Braga. Ulmeiro, 1983 (1969). Imagem do Corpo n.º 5.


 









Nunca será tarde para reler a obra de uma das escritoras portuguesas mais singulares – Maria Ondina Braga (1922-2003). Por altura do centenário do seu nascimento, a Imprensa Nacional – Casa da Moeda editou o primeiro de sete volumes que conterão a sua obra completa.

Digo isto com admiração e emoção pois aprendi a ler a autora (e muitos outros escritores contemporâneos portugueses) através das belíssimas selectas literárias que Eduarda Dionísio organizava para os liceus. Eduarda Dionísio, outra grande senhora das artes e letras, recentemente falecida.

Ficava entusiasmado e pedia aos meus pais para comprar os livros de onde saíam os trechos e, mais tarde, na Feira do Livro, ia ter com eles e pedia que mos autografassem. Assim, ganhei a simpatia e, porque não, a amizade de Maria Ondina Braga, senhora serena, silenciosa, sempre com um sorriso eivado de cansaço e de letra miudinha e assertiva. Não devia entender lá muito bem a razão de um miúdo gostar tanto da escrita melancólica de uma mulher vinda de um universo distante…

…porque «Estátua de Sal» regressa mesmo de um mundo longínquo. Braga, Goa, Angola, Londres, Paris, Macau, Hong Kong inscritos em frescos de velha capela ou pintura rupestre ou baixo-relevo mediderrânico. Tudo soa a incrivelmente íntimo, a insuperavelmente melancólico, tudo muito simples, directo, límpido, rigoroso, onde quem narra parece não conter a gigantesca curiosidade pela viagem seguinte mas sabe, de antemão que, chegada, ela trará o desespero da solidão, até mesmo o prenúncio do tédio.

(Seria eu um miúdo solitário à procura de uma razão para um tédio sem plausível explicação?)

Maria Ondina Braga (uma espécie de Bruce Chatwin das paisagens urbanas, cosmopolitas e tão povoadas, ou uma Annie Ernaux onde a devoção por um deus inexistente confere ao íntimo a subtileza poética da oração) concede a narrativa breve dos instantes puros, trocando-lhes a acção pela profundidade onírica de cada objecto descrito.

A páginas tantas de «Estátua de Sal», ao deparar em Macau com a cidade balouçante de juncos e lorchas, onde vive um dos seus alunos com o avô, e para dele se aproximar, vê-se obrigada a comprar um periquito a uma vizinha mal-encarada. Acabam a beber chá e o aluno far-lhe-á uma gaiola pois é sempre bom ter umas asas em casa. Apenas isso. E, no fundo, tudo representa.

Com Maria Ondina Braga aprendemos a que o tempo escasso da espera é imenso, talvez seja mesmo a simples eternidade do que poderá nem chegar.

jef, junho 2023

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Sobre o filme «Petite Fleur» de Santiago Mitre, 2022
























O melhor desta singela comédia é que ela própria não se leva a sério e vai brincando sem lógica factual mas com toda a eterna ilógica da banda desenhada e dos desenhos animados. Nestes, os heróis, os Bip Bips e os Coyotes da Warner, são cilindrados a cada curta-metragem e logo surgem na seguinte, penteados e sem uma pinga de sangue sobre o pêlo ou a pena. Aqui são os próprios tédio e a rotina diários que aparecem como figuras centrais prontas a serem degoladas. Contudo, o cartoonista José (Daniel Hendler) que é despedido e se torna dono de casa e baby-sitter da pequenina Antonia, dá-lhe a tranquilidade da rotina e vê-se obrigado a assassinar o vizinho Jean-Claude (Melvil Poupaud), personagem cabotina e sobejamente enervante, viciado em «Petite Fleur» na bela versão delicodoce de Sidney Bechet. Só que a morte fica-lhe bem e, no dia seguinte, Jean-Claude volta a surgir, ainda mais cabotino e exasperante. Sem uma pinga de sangue no fato impecável. O assassino reiterado vê-se, nessas situações, imbuído de uma libido explosiva que devolve outro vigor à relação com que a incansável trabalhadora e mãe Lucie (Vimala Pons). Contudo, o casal vê-se obrigado a consultar um psicólogo-médium-xamã, não menos cabotino e enervante. José tenta o mesmo método mas não resulta tão bem.

Pelo meio, ainda se ouve uma versão arqueológica de «Capri c’est fini» pelo próprio e contemporâneo Hervé Vilard.


jef, junho 2023

«Petite Fleur» de Santiago Mitre. Com Melvil Poupaud, Daniel Hendler, Vimala Pons, Sergi López, Françoise Lebrun, Éric Caravaca, Hervé Vilard, Amapola Golzman, Calypso Roure, Eva Zayas Brito Cornet, Jean-Luc Piraux, Luca Denti, Fabrice Adde. Argumento: Santiago Mitre e Mariano Llinás segundo o romance de Iosi Havilio. Produção: Didar Domehri e Agustina Llambi-Campbell. Fotografia: Javier Julia. Música: Gabriel Chwojnik. França / Argentina / Bélgica / Espanha, 2022, Cores, 98 min.