quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Sobre o filme «As Mil e Uma Noites: Volume 3 – O Encantado» de Miguel Gomes, 2015














O passo do pássaro.

No terceiro volume de «As Mil e Uma Noites: Volume 3 – O Encantado», Miguel Gomes terá ficado encantado pelas histórias que Xerazade foi contando na roda gigante de Marselha, deixando o filme alongar-se entre a ameaça das noites que terminam e as auroras que concedem um dia mais de vida.

Pode o realizador, entre o soberbo material sobre os passarinheiros de Chelas, Camarate, e até da Linha, ter ficado tão enfeitiçado que não teve coragem de o truncar. Ganha o documentário, os rostos, as figuras maravilhosamente filmadas. Perde a ficção e a história.

Mas isto nada importa quando, no final dos três volumes, surge uma das cenas mais belas que eu vi no cinema. Chico Chapas, após passarinhar, solta das redes um velho génio que já não voa nem transporta vento presunçoso. Depois segue caminho entre os campos primaveris dos arrabaldes de Lisboa, amado pelo espírito de Cesário Verde.

Chico Chapas segue a sua vida! Em silêncio, concentrado no objectivo, resistindo, obstinado e perseguido pela natureza. Pela beleza.

Não será melhor seguirmos nós o exemplo? E quanto antes...

jef, outubro 2015

“As Mil e Uma Noites: Volume 3 – O Encantado” de Miguel Gomes, 2015. Com Miguel Crista Alfaiate, Bernardo Alves, Chico Chapas, Carloto Cotta, Américo Silva, Gonçalo Waddington. Portugal / França / Alemanha / Suiça, 125 min.

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