Em qualquer sistema, ser sistemático é um contra-senso.
Ser-se sistemático é reduzir a entropia que, a cada momento, o mundo a
desorganizar-se vai criando. Mas o mundo desorganiza-se para depois criar mais átomos,
mais células. A desconstrução é a estratégia
de sobrevivência do mundo. E se num sistema não existe entropia a contrariar,
logo não é necessário que Justino seja sistemático. Mas Justino era sistemático,
o que provocava não propriamente o riso, mas pelo menos o sorriso complacente
da comunidade. E a sua comunidade resumia-se às pessoas, muitas delas suas
parentes, que habitavam as quatro ruas, o largo da capela e a estrada junto ao
terreiro onde colocaram o reservatório da água e o moinho de vento, onde chegavam as
camionetas. A aldeia. Ou seja, o sistema. Aí poderíamos incluir também os
animais e as árvores que o rodeavam, já que a comunidade não sobreviveria sem
eles. Não sobreviveria no seu modo económico, social ou simbólico. Diga-se, modo moral. Sem as pessoas (e o gado, as árvores de fruto), dificilmente
passaria pois era no largo que o sistema se moralizava. Principalmente quando, aí,
falavam precisamente de Justino. Pois, nesse aspecto, também a comunidade era
sistemática. Não havia tarde em que dele (ou da sua mulher, filha, filho, gato,
cão, cabras e galinhas) não falassem. Era apenas um sistema moral equidistante
entre a soberba e a inveja. Precisavam só
de um elemento teórico externo para poderem observar-se por dentro e sorrirem.
Pode dizer-se que, moralmente, Justino era feliz na sua aldeia.
jef, agosto 2015
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