segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Sobre o filme «As Mil e Uma Noites, Volume I – O Inquieto» de Miguel Gomes, 2015















Estranho este modo de contar histórias.

Contar histórias para adormecer os outros, para não adormecermos, para que a morte não nos encontre. Xerazade e Miguel Gomes sabem bem como levar-nos até a essa estranheza, até à fronteira daquilo a que Ingmar Bergman chamou, em 1968, «A Hora do Lobo». A hora de vigília, a hora da incerteza brutal.

Aqui, a ficção é a realidade, o País dos Desempregados e do Desespero, a ficção. [Os estaleiros de Viana, a vespa asiática, a fuga do realizador, os Homens de Pau Feito, o galo sabedor, a paixão e o incêndio florestal, os desempregados heróis, a baleia explosiva, o electrocardiograma, a praia, o banho iniciático do 1º de Janeiro...] A Esperança.

Porém, quem nos leva a escutar as histórias não é a vida nem é a morte, como alguém escreveu. É a Ternura, essa poética maior, tão difícil de transcender, por vezes tão difícil de reter no coração.  O filme nela está ensopado.

Estranho modo este de ouvir histórias para acordar e levar a Ternura a ultrapassar os limites da Hora do Lobo.

Xerazade e Miguel Gomes sabem bem como adiar a morte.

jef, setembro 2015

«As Mil e Uma Noites, Volume I – O Inquieto» de Miguel Gomes. Com Crista Alfaiate, Luísa Cruz, Maria Rueff, Diogo Dória, Adriano Luz, Américo Silva, Rogério Samora, Carloto Cotta, Fernanda Loureiro. Portugal / França / Alemanha / Suiça, 2015

Sem comentários:

Enviar um comentário