quarta-feira, 2 de junho de 2021

Sobre o filme «O Pai» de Florian Zeller, 2021







Claro que Anthony Hopkins (Anthony) é extraordinário no modo de nos deixar em palpos de aranha quando a neurologia começa a falhar retirando os filtros do bom comportamento, da boa vizinhança, da memória. Impressionante como consegue fazer baixar sobre o próprio olhar o véu calado da auto-incompreensão e, posteriormente, do alheamento.

Mas sem a desesperada, submissa e silenciosa sua filha Anne (Olivia Colman) essa acrimónia potencial, e agora exposta, de nada valeria.

Sobretudo, o facto de a história ser contada entre fracturas de tempo e lapsos de arquitectura doméstica, sempre pelo lado interior de quem não entende a causa da geografia espacial se revoltar contra a rotina da lembrança, é digno de excelente nota. A lembrar o espanto com que se lê «O Som e a Fúria» de William Faulkner (1929) ou «O Vento Assobiando nas Gruas» de Lídia Jorge (2002).

Mas não será comum essa resignação final, esse apaziguamento emocional interior. Infelizmente, a grande maioria das histórias não têm tal melancolia triste mas pacífica no seu termo. Coisa mais de pesponto cinematográfico hollywoodesco do que de realismo diegético.


 jef, junho 2021

«O Pai» (The Father) de Florian Zeller. Com Anthony Hopkins, Olivia Colman, Mark Gatiss,     Olivia Williams, Imogen Poots, Rufus Sewell, Ayesha Dharker. Argumento: Christopher Hampton e Florian Zeller, baseado no romance deste último. Fotografia: Ben Smithard. Música: Ludovico Einaudi. EUA / França, 2021, Cores, 97 min.

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