Claro
que Anthony Hopkins (Anthony) é extraordinário no modo de nos deixar em palpos
de aranha quando a neurologia começa a falhar retirando os filtros do bom comportamento,
da boa vizinhança, da memória. Impressionante como consegue fazer baixar sobre
o próprio olhar o véu calado da auto-incompreensão e, posteriormente, do
alheamento.
Mas
sem a desesperada, submissa e silenciosa sua filha Anne (Olivia Colman) essa acrimónia potencial, e agora exposta, de nada valeria.
Sobretudo,
o facto de a história ser contada entre fracturas de tempo e lapsos de
arquitectura doméstica, sempre pelo lado interior de quem não entende a causa da
geografia espacial se revoltar contra a rotina da lembrança, é digno de
excelente nota. A lembrar o espanto com que se lê «O Som e a Fúria» de William
Faulkner (1929) ou «O Vento Assobiando nas Gruas» de Lídia Jorge (2002).
Mas
não será comum essa resignação final, esse apaziguamento emocional interior.
Infelizmente, a grande maioria das histórias não têm tal melancolia triste mas
pacífica no seu termo. Coisa mais de pesponto cinematográfico hollywoodesco do que de realismo
diegético.
jef, junho 2021
«O
Pai» (The Father) de Florian Zeller. Com Anthony Hopkins, Olivia Colman, Mark
Gatiss, Olivia Williams, Imogen Poots,
Rufus Sewell, Ayesha Dharker. Argumento: Christopher Hampton e Florian Zeller,
baseado no romance deste último. Fotografia: Ben Smithard. Música: Ludovico
Einaudi. EUA / França, 2021, Cores, 97 min.
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