quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Sobre o filme «Marcha Sobre Roma» de Mark Cousins, 2022



 






















A origem do mal.

O que mais me intriga no filme talvez seja o que mais me atrai. Essa exploração livre e um pouco caótica do cinema como método de entretenimento e exploração da verdade histórica. O cinema como arte manipuladora, fazendo da mentira o simulacro da realidade. Precisamente, começa por escalpelizar, fotograma a fotograma, o filme realizado em 1922 por Umberto Paradisi «A Noi». Um filme que se inicia em Nápoles e faz crer na posterior e triunfal chegada de Mussolini a Roma. Afinal, tudo não passou de um fracasso e de uma encenação pífia com a sistemática duplicação de imagens, a começar pela ausência da subida em pompa de Mussolini e dos Camisas Negras da escadaria do soldado desconhecido, pela alteração das datas para esconder a chuva, a lama ou pela pouca adesão popular às movimentações fascistas.

Além disso, a belíssima actriz Alba Rohrwacher fala para a câmara como uma mulher que sentiu o entusiasmo pela ascensão do regime e depois o confronto deprimente perante as suas bárbaras consequências.

Fala-se de «O Triunfo da Vontade» de Leni Riefenstahl (1935), de «O «Couraçado Potemkine» Serguei Eisenstein (1925). Também de «Um Dia Inesquecível» de Ettore Scola (1977). De outros filmes realizados pelo mundo na década de 20.

Fala-se de Hitler, de Franco, de Salazar, de Haile Selassie, da Maçonaria. E de como os rapazes fascistas gostam de aparecer às varandas. Também de Trump, de Bolsonaro, de Viktor Orbán, de Giorgia Meloni…

Fala-se de Roma como cenário de teatro e de passeio sobre os vestígios arquitectónicos do fascismo.

Fala-se, por fim, da reabertura de uma sala de espectáculos que da provável demolição se ergueu para assumir o seu papel como Cine-Teatro de intervenção, de estudo, de discussão da arte social do cinema, onde se mantiveram nas paredes os símbolos esculturais colocados anteriormente pelo regime de Mussolini.

Um filme que, através das imagens de recolha histórica, da encenação dramática e do fio contínuo temporal transportado pela realidade política oferece um emocional testemunho contra as hifas que o fascismo de Mussolini vem lançando até aos dias de hoje.


jef, novembro 2023

«Marcha Sobre Roma» (Marcia su Roma) de Mark Cousins. Com Alba Rohrwacher, Mark Cousins (voz), Donald Trump, Benito Mussolini, Gabriele D'Annunzio, Haile Selassie, Giacomo Acerbo. Argumento: Mark Cousins e Tommaso Renzoni. Produção: Carlo Degli Esposti, Nicola Serra, Antonio Badalamenti. Fotografia: Timoty Aliprandi, Mark Cousins. Itália, 2022, Cores, 98 min.

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