Desconheço a cultura japonesa. Porém, muitos filmes japoneses fazem parte da minha mais restricta
e secreta cinefilia emocional.
«Viver»
de Akira Kurosawa 1952. «Crepúsculo em Tóquio» de Yasujiro Ozu.
1957. «Primavera Tardia» de Yasujiro Ozu, 1949. «O Som do Nevoeiro» de Hiroshi
Shimizu, 1956. «Viagem a Tóquio» de Yasujiro Ozu, 1953.
«Ninguém Sabe» Hirokazu Kore-eda, 2004. Por exemplo.
Por
eles, entendo como nesse país o tempo entre gerações e o espaço entre os
elementos da família são medidos através de uma profunda (com)paixão, uma
enorme reverência, uma resignada cerimónia. Tudo enlaçado pela comoção, pela
poesia, pelo dramatismo.
Talvez
por isso, esqueça as paragonas comerciais com que a editora vende o livro e
encontre nele apoio nesse meu “preconceito” perante a cultura japonesa: comoção,
poesia e índole teatral.
São
quatro histórias familiares e íntimas, tão banais quanto frágeis passadas num
café-meio-cave, singelo, discreto, escondido num beco da enorme cidade de Tóquio.
Um café centenário que serve um requintado café personalizado, servido por um pequeno
e silencioso núcleo familiar. Nas paredes estão expostos três relógios desacertados e as
três únicas mesas do estabelecimento costumam estar ocupadas por clientes muito habituais. Um dia, um cronista de jornal descobriu que o local tem um compromisso com o Tempo. Ali, pode-se
viajar nele, reconhecer o passado, espreitar o porvir mas quem o faz não pode
mexer no presente.
Toshikazu
Kawaguchi oferece-nos esse lado cinéfilo através das descrições dos que entram ou saem pela porta do café ou pela porta do Tempo; também o pendor dramático e teatral pois grande
parte das histórias é contada através de diálogos; o lado poético porque o
silêncio sublinha o lado quase resignação ou abandono dessa devoção
amorosa pela ideia de família.
jef, maio 2024
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