
Consideremos que o oráculo de Delfos não diz a verdade. Antes
revela, não a mentira, mas a fantasia que abominamos ou desejamos que aconteça.
Tirésias, o cego, apenas sente e também pode estar errado. E a Esfinge e
Jocasta, que falsidade terão elas para contar? Édipo, já rei, pode enganar-se,
mas poderá também enganar? E Tebas responderá pela culpa? Qual o papel do
espectador ao aproximar-se das sete portas de uma cidade sitiada? Em cada um de
nós, haverá sempre Tebas!
A escrita para teatro de Firmino Bernardo é única. Parece ser
uma escrita leve, humorística, lúdica. E é. Contudo, numa camada
paralela, parece ser uma dramaturgia existencialista vinda de séculos passados
recentes onde o indivíduo em crise se confronta com o coro colectivo. E é.
Contudo, num outro extracto interior revela um composto visivelmente político,
um sentido brechtiano para se revoltar contra a própria política do espectáculo
– discursos curtos, cenas sobrepostas – que dão um trabalhão ao encenador. E
revela muito bem. «Teremos sempre Tebas» é uma peça que regressa do classicismo
grego, venerando-o, ao mesmo tempo que o excomunga e transporta para a alma
contemporânea. Sem mácula faz-nos rir na tragédia, respeitando-a. Tal facto é,
em teatro, único. Quem não conhece o teatro de Firmino Bernardo não sabe o que
anda a perder.
«Teremos Sempre Tebas» peça de Firmino Bernardo (vencedor do
Concurso de Dramaturgia Guilherme Cossoul 2014). Encenação de Susana Arrais,
com Cláudio Henriques, Miguel Santos, Rui Ferreira e Sara Felício. Em cena na
S.I. Guilherme Cossoul, em Lisboa, sextas e sábados, de 27 de Fevereiro a 27 de
Março, às 21h30.
jef, março 2015
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