sábado, 14 de março de 2015

O Teatro de Firmino Bernardo: «Teremos Sempre Tebas»




Consideremos que o oráculo de Delfos não diz a verdade. Antes revela, não a mentira, mas a fantasia que abominamos ou desejamos que aconteça. Tirésias, o cego, apenas sente e também pode estar errado. E a Esfinge e Jocasta, que falsidade terão elas para contar? Édipo, já rei, pode enganar-se, mas poderá também enganar? E Tebas responderá pela culpa? Qual o papel do espectador ao aproximar-se das sete portas de uma cidade sitiada? Em cada um de nós, haverá sempre Tebas!
 
A escrita para teatro de Firmino Bernardo é única. Parece ser uma escrita leve, humorística, lúdica. E é. Contudo, numa camada paralela, parece ser uma dramaturgia existencialista vinda de séculos passados recentes onde o indivíduo em crise se confronta com o coro colectivo. E é. Contudo, num outro extracto interior revela um composto visivelmente político, um sentido brechtiano para se revoltar contra a própria política do espectáculo – discursos curtos, cenas sobrepostas – que dão um trabalhão ao encenador. E revela muito bem. «Teremos sempre Tebas» é uma peça que regressa do classicismo grego, venerando-o, ao mesmo tempo que o excomunga e transporta para a alma contemporânea. Sem mácula faz-nos rir na tragédia, respeitando-a. Tal facto é, em teatro, único. Quem não conhece o teatro de Firmino Bernardo não sabe o que anda a perder.
 
«Teremos Sempre Tebas» peça de Firmino Bernardo (vencedor do Concurso de Dramaturgia Guilherme Cossoul 2014). Encenação de Susana Arrais, com Cláudio Henriques, Miguel Santos, Rui Ferreira e Sara Felício. Em cena na S.I. Guilherme Cossoul, em Lisboa, sextas e sábados, de 27 de Fevereiro a 27 de Março, às 21h30.
 
jef, março 2015


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