«Yvone Kane» de Margarida Cardoso. Com Beatriz
Batarda, Francilia Jonaze, Gonçalo Waddington, Irene Ravache, Samuel Malumbe.
Portugal / Brasil / Moçambique, 2014.
A verdade e o esquecimento
Existe uma
frontalidade, diria exactidão e contenção, nas palavras ditas que mantêm os
diálogos a pairar na nossa cabeça como epígrafes das imagens. As imagens,
essas, na justeza da câmara a tocar o rosto das actrizes (Beatriz Batarda vs.
Irene Ravache) com as rugas e as manchas a que as personagens têm direito,
tornam os enquadramentos arquitectónicos e a cenografia dos corpos dos actores
o modo mais eficaz de fazer escutar as tais palavras poucas. E é importante
ser-se exacto e contido quando se trata da oposição entre a verdade e a
memória, entre Portugal e Moçambique, brancos e pretos, colonizados e
colonizadores, arrogância e generosidade, entre a perda definitiva e a memória
dorida, entre a paixão e a compaixão. Que fazer da verdade do passado quando o
presente nos transporta para uma fronteira armadilhada que mal distingue a
verdade, o esquecimento, o rancor e o perdão?
jef, março 2015
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