segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Sobre o filme «45 Anos» de Andrew Haigh, 2015.














O poder da omissão.
Um filme que usa o tempo como modo de rigorosa expressão. E o som aqui também é imprescindível. Nada é desperdício, tudo se concentra no simples mas fundamental tema: a omissão. Por esse motivo, determinada moral religiosa determina-a como um dos pecados obrigados à sua própria antítese, a confissão. Logo no genérico inicial o espectador é avisado pelo som de slides a passar. O climax do filme. No final, «Smoke Gets in Your Eyes» dos Platters torna-se o terrível epitáfio dessa omissão, tão grave que pode comparar-se a um engano incontornável . Tudo se condensa numa fina angústia que vai crescendo no coração do espectador ao longo de seis capítulos, de segunda-feira a sábado, lidos como seis histórias independentes e sequenciais. Tudo é oferecido à interpretação de Charlotte Rampling que desvenda o rancor contido de Kate Mercer na dança final com o seu eterno marido, Geoff Mercer (Tom Courtenay).
Contudo, Geoff Mercer (e todos nós) tem consciência de que existem factos, actos, palavras (e até risos) que, moral católica à parte, jamais podem ser confessados, se ele quiser que o mundo continue a girar em torno do seu próprio eixo.
Um dos filmes do ano!

jef, janeiro 2016


Haigh, Andrew “45 Anos” (45 Years). Com Charlotte Rampling, Tom Courtenay, Dolly Wells. Grã-Bretanha, 2015.

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