quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Sobre o filme «A Vida de Uma Mulher» de Stéphane Brizé, 2016















Em 2015, de Stéphane Brizé, tinha-nos chegado «A Lei do Mercado», essa composição fechada sobre o individuo que se vê manietado, agredido, pela fúria económica da sociedade. Assim, a mesma sociedade, cento e tal anos antes, vem enclausurar Jeanne (Judith Chemla) em «A Vida de Uma Mulher». O mesmo realismo, a mesma opressão, neste caso, a resignação de uma mulher que tenta a todo o custo preservar a imagem de uma felicidade adolescente que ficou encerrada três décadas antes.

A bela Normandia, a folhagem do belo arvoredo, ficam de fora dos enquadramentos. Estão de volta os planos fechados sobre a figura delicada de Jeanne que se afasta lentamente da suavidade alegre e despreocupada da juventude. O realizador avisa que a história teve um início feliz, em alegres e ensolaradas analepses (os tais flashbacks), mas que o fim será sombrio, insistindo em toldar o futuro com sombrias prolepses (digamos, flashforwards). Avisos estes que se sobrepõem às palavras do romance inicial de Guy de Maupassant.

A criação aristocrática de Jeanne por Judith Chemla pode ser comparada a Vincent Lindon em «A Lei do Mercado», tal o expressionismo corporal dos actores ultrapassando bem o rigor do close-up. Mais nada interessa que o realismo romântico da tristeza ditado pelo inclinar da nuca ou pelo tactear instável dos dedos no tampo de uma mesa.

A beleza do movimento, da textura do tecido, do cravo tocado em fundo quando se ouvem passos, o ladrar dos cães ou o relógio, em primeiro plano, descrevem a deliberada aproximação do espectador aos objectos desejada pelo realizador.

Um bom exercício de estilo, estética e moralidade, será confrontar «A Vida de Uma Mulher» com o mais recente filme «Lady Macbeth» de William Oldroyd (2017).

jef, agosto 2017

Sobre o filme «A Vida de Uma Mulher» (Une Vie) de Stéphane Brizé. Com Judith Chemla, Jean-Pierre Darroussin, Yolande Moreau, Olivier Perrier, Swann Arlaud, Clotilde Hesme, Nina Meurisse, Alain Beigel, Jalil Lespert. Sobre o romance de Guy de Maupassant. Bélgica / França,  2016, Cores, 119 min.

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