sábado, 20 de junho de 2020

Sobre o livro «Deixa-te de Mentiras» de Philippe Besson. Sextante Editora, 2020 / (2017)

 









Pouco importa se o livro vem classificado como “autobiográfico” e se o autor dedica o livro a alguém com o mesmo nome do segundo personagem principal. Esta é a história contada por três datas: 1984, 2007, 2016, e contém uma arquitectura narrativa que transforma qualquer “história comum” num belo e emocional acto de leitura.

Realmente, é a história “comum” da atracção amorosa entre dois rapazes e que não pode (ou não quer) ser contada. Estamos na França rural, em 1984. De um lado, Philippe Besson, filho de professor, tímido mas dotado, entediado e convicto; do outro Thomas Andrieu, filho de agricultor, bela figura e fugidio, voluntarioso mas reprimido.

A páginas tantas um personagem revê num álbum as fotografias do casamento da mãe, que as vê regularmente, e diz: “deve gostar de se lembrar da sua juventude”, ao que o narrador omnisciente corrige entre parêntesis “ou então confunde juventude com felicidade; é uma confusão frequente.” Esta frase parece ser o corolário, tantas vezes repensado, de outra frase que lhe ficou gravada nas células, desde 1984: “Porque tu um dia hás-de partir e nós vamos ficar.”

Thomas prevê o futuro: Philippe tornar-se-á escritor famoso e completo, através dessa criação realista que é a ficção literária, a que a sua mãe objecta dizendo-lhe: “Deixa-te de mentiras!”. Thomas partirá.

Realmente, é a história “comum” de amor entre jovens homossexuais nos anos 80, antes do VIH surgir como alavanca de morte e transformação social.

Esta é a história “tão comum” de um primeiro amor.


jef, junho 2020


Sem comentários:

Enviar um comentário