quarta-feira, 30 de março de 2022

Sobre o filme «A Rapariga e a Aranha» de Ramon e Silvan Zürcher, 2021


























Onde se prova que a proximidade da câmara sobre a expressividade dos actores (em especial das actrizes) não é tudo no cinema. Também é prova de que também não é suficiente a beleza de Henriette Confurius, que representa Mara, aquela que fica na velha casa, ou a fotogenia de Liliane Amuat, que representa Lisa, a que abandona a casa e Mara (e a aranha) para ir viver com o namorado Markus (Ivan Georgiev). Tudo entre o exíguo centímetro quadrado de uma ombreira, de uma porta, de um corredor que alberga o cão e gato dos vizinhos, os miúdos barulhentos, a vigilância de uma mãe silenciosa, Astrid (Ursina Lardi), o trabalho dos operários e o do martelo pneumático, lá fora. Também não é suficiente a bela valsa Philipp Moll ou a fábula de uma desaparecida pianista que terá embarcado num navio de cruzeiro como criada de quarto. Fantasmagóricos, o piano e a solidão ficam para trás, com Mara, a abandonada. Para recordação resta-lhe o herpes labial e o pudor da aranha doméstica. Esta como símbolo da casa-exílio.

Tudo milimetricamente encenado entre esquinas e caixotes, silêncios e desconfianças, numa repetição de gestos que só é desconhecida para quem nunca fez uma mudança.

Porém, toda a encenação e a troca de gestos e o simbolismo soam a pouco como dramaturgia de um amor de Verão em fim-de-estação. Soam mesmo um tanto enfadonhos.

Fica a tarefa árdua dos actores que a suportam sem pestanejar, num admirável tour de force dramático.

Ah! E também levamos na memória a tal valsa…

 

jef, março 2022

«A Rapariga e a Aranha» (Das Mädchen und die Spinne) de Ramon & Silvan Zürcher. Com Henriette Confurius, Liliane Amuat, Urina Lardi, Flurin Giger, André Hennicke, Ivan Georgiev, Dagna Litzenberger-Vinet, Lea Draeger, Sabine Timoteo, Birte Schnöink. Argumento: Apichatpong Weerasethakul. Produção: Adrian Blaser, Aline Schmid, Ramon Zürcher e Silvan Zürcher. Fotografia: Alexander Haßkerl. Música: Philipp Moll. Suiça, 2021, Cores, 98 min.

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