sexta-feira, 1 de abril de 2022

Sobre o livro «John Steinbeck – Antologia do Conto Moderno». Selecção e tradução de João José Cochofel e Rui Feijó. Atlântida, 1945.










Os textos que integram esta colectânea são extraídos de «Short Stories» e «The Long Valley» (1938) e bem representam a capacidade do autor em ultrapassar o dogma interior do escritor para ir encontrar a humanidade que envolve o mundo inteiro. Aqui, na sua maior parte, reflectida no espelho de Monterey, Salinas, Califórnia, Estados Unidos da América.

E se toda a literatura não trata mais do que a solidão, John Steinbeck, nestes oito contos, é o seu padrinho, o tal reflexo humano que tende a caminhar só para só chegar.

Ou talvez nem tanto. «De como Edith McGillcuddy conheceu R.L. Stevenson» é um conto único, de um humor extraordinário, quase extravagante, para quem lê esse escritor que sempre tendeu para a etimologia do trabalho ou o princípio do sacrifício encrostada na alma do mais pobre. Ou mesmo o breve apontamento, maravilhoso, que surgirá mais tarde em «As Vinhas da Ira» (1939), a comunhão de um pequeno-almoço ao crepúsculo, entre desconhecidos, enquanto a criança mama no seio da cozinheira.

Nada mais fulcral que o encontro clandestino e nocturno dos dois sindicalistas que temem a polícia mas muito mais a chegada dos ferozes lacaios amarelos pagos para agredir e desmobilizar, «A Rusga», lembrando «A Condição Humana» de André Malraux. Ou a tremenda história do linchamento em «O Vigilante», que poderia vir acompanhada pela canção de Billie Holiday «Strange Fruit».

Ou ainda o perfeito entendimento da condição feminina e da sua interior volição em «O Assassinato» ou no comoventíssimo conto final «Os Crisântemos». Como a suprema identidade da mulher na sua intimidade pode ter descrição.

John Steinbeck foi prémio Nobel em 1962, da literatura. Mas poderia bem sê-lo da humanidade. Um palavra que talvez valha mais como partícula adjectivante do como substantivo próprio.


jef, abril 2022

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