quarta-feira, 19 de julho de 2023

Sobre o disco «Cãs» de Balla, Balla 2022

 


«Cãs» não tem medo do futuro. Sequer da tradição da Pop. Sequer da electrónica que permanece inscrita no código genético de um certo músico chamado Armando Teixeira.

Balla é um ser plástico e mutante, que dispensa organização ou definições. Os quatro temas do Lado A (Contramão, Xeque-Mate, Motim e Segredos) e outros tantos no lado B (A Noite, Coração Desarrumado, Ardor e Dias Felizes) do long playing fazem jus ao lado descomprometido, lúdico, quase pueril de uma música para ser ouvida na radio de um automóvel em direcção a alguma praia próxima distante.

Contudo, os temas citados fazem igualmente uma piscadela de olho nostálgica, uma declaração singela ao porvir, um compromisso de honra de alguém que reconhece os vinte anos passados sobre a edição do álbum «Le Jeu» (2003). Ao amor surgem xeques-mate, motins, segredos, ardores e desarrumos, mas nunca cãs.

Por isso, este disco sorri ao privilegiar um certo gozo invisível de brincar aos subterrâneos dos seus próprios clássicos. A pop-pop de «Segredos», o romantismo de «Coração Desarrumado», o sinfónico de «Motim».

Por isso a inicial abstracção de «Contramão». Salivada, urbana e modular.

E, por fim, essa piscadela de olho nostálgica, reconciliação quase easy-listening de «Dias Felizes». No fundo, no fundo, porque eles existem e nos são imprescindíveis!

jef, julho 2023

Sem comentários:

Enviar um comentário