sábado, 2 de setembro de 2023

Sobre o filme «A Infância Nua» de Maurice Pialat, 1968



 

























O que impressiona nesta obra-prima, a primeira longa-metragem de Maurice Pialat, é a capacidade de construir um documento único sobre a realidade, portanto inclassificável, utilizando todos os métodos do drama clássico. Maurice Pialat mostra-nos uma história real através de uma extraordinária matéria narrativa a que, se fosse um discurso, poderíamos chamar pathos, esse objecto que faz certo tema aproximar-se da consciência através do nosso coração. (A minha memória traiçoeira lembra-se de Manoel de Oliveira, John Cassavetes, Abbas Kiarostami ou Abdellatif Kechiche, nesse modo tão sintomático de nos mostrar o lado ternamente obscuro da infância, da juventude e da família.)

Sim! Acima de tudo comovente a história do menino de dez anos, François (Michel Terrazon) condicionado pelo método de adopção temporária (por oposição da mãe relativamente à adopção definitiva) que o deixa à mercê da violência do próprio rancor e da maldade mais crua. Até ser adoptado pelo terno e velho casal Minguet (Marie-Louise Thierry e René Thierry), onde também vive uma avó, Mémère la Vieille (Marie Marc), com a qual François descobre uma amizade mais forte do que a sua intrínseca revolta.

Ainda toda a história da France contemporânea parece estar aqui a ser contada.

Tudo neste filme é teatral mas custa a crer que o seja. Por ali existe um realizador invisível, uma câmara de filma inexistente, mas todos se colocam em cena como um palco ou uma tragédia grega.

Mas sem oferecer no final o deus ex-machina !


jef, setembro 2023

«A Infância Nua» (L'Enfance-Nue) de Maurice Pialat. Com Michel Terrazon, Linda Gutenberg, Raoul Billerey, Pierrette Deplanque, Marie-Louise Thierry, René Thierry, Henri Puff, Marie Marc, Maurice Coussonneau. Argumento: Arlette Langmann e Maurice Pialat Produção: Vera Belmont, François Truffaut e Claude Berri. Fotografia: Claude Beausoleil. Música: Gabriel Chwojnik. França, 1968, Cores, 83 min.

 

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