Será necessário regressar a «Gloom», o primeiro EP do trio Decline
and Fall, para compreender o mundo que os envolve (nos envolve). Talvez mesmo
esperar pela quarta e última faixa, “Europa” para entender como a música (a
arte) pode estar, agora mesmo, a fazer ainda mais sentido.
«Villains
as leaders
Banks are now the white bull
People are weaker, nothing left to lose
Land soaked in blood, in mud we crawl
Bang the war drum, as we decline and fall»
Assim fala o poema de Ricardo S. Amorim. Premonitório? Talvez
sim.
Contudo, as quatro faixas (“Belief”, “Undone”, “Gloom” e a
referida “Europa”) têm um lado muito mais espiritual, mesmo psicanalítico, do
que político. Tudo gira no interior de uma Europa que nós construímos dentro de
nós do que a Europa politicamente histriónica, também a das redes digitais, que
nos inunda e irrompe na nossa intimidade espiritual.
Digamos, que aqui encontro um lado cinematográfico. Como se
um certo David Lynch viesse convocar os Portishead ou Joy Division para
construir um mundo visual forte e peremptório, onde Beth Gibbons, Ian Curtis ou
Julie Cruise fossem apenas peças soltas que a minha própria memória,
ostensivamente parcial, insiste em sobrepor e baralhar.
Porque é evidente que o vigor obscuro, entre a pena e o
remorso, a perda e a eterna busca, é a obstinada independência e a força
resistente e original de Decline and Fall (Armando Teixeira, Hugo Santos,
Ricardo S. Amorim, e o baixo convidado de Miguel L. Pereira em “Undone”).
Música que devemos continuar a ouvir no nosso futuro.
jef, junho de 2025
https://banddeclineandfall.bandcamp.com/album/gloom
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