Na
realidade, William Shakespeare é infinito. «Sonho de Uma Noite de Verão» é uma das peças mais seguidas, copiadas, desfeitas, reconstruídas. E mantém-se sempre de pé,
entre risos, mal entendidos, reis, rainhas, fadas, amores desavindos, amores
vindos e poções mágicas mal geridas. Ingmar Bergman ou Woody Allen, sabem disso. Diogo Infante também,
apropriando-se da bela tradução de Augusto Sobral e permeando-a de dichotes
musicais, excertos de canções da sobejamente conhecida, próxima ou longínqua, pop
portuguesa (José Cid, Doce, Paulo de Carvalho, Heróis do Mar, Amália
Rodrigues, Ornatos Violeta, Simone de Oliveira, Ala dos Namorados, Salvador
Sobral, Marco Paulo ou Expensive Soul). E Shakespeare revolta-se? Claro que
não, está tudo muito bem encadeado no interior de uma louca noite de Verão feita de desejo e
desencontro, aproximações e paixões trocadas. Teseu, Duque de Atenas, e Hipólita,
Rainha das Amazonas, vão-se casar. Desejam ver uma peça de teatro. A tíbia escolha recai sobre um grupo amador que resolve apresentar uma espécie de Romeu e
Julieta sob a forma da trágica paixão de Píramo e Tisbe. Uma verdadeira
pantomima. Entretanto na floresta os desencontros sucedem-se e as poções
mágicas são muito mal utilizadas por Puck, o coadjuvante de Oberon, Rei das Fadas,
que pretende a reaproximação de Titânia, a Rainha das Fadas.
A
tudo Shakespeare resiste, principalmente com a alegria popular da música,
cantada por óptimas vozes, delicadas e afinadas, um cenário que na sua complexa
simplicidade não nos distrai do ambiente de floresta encantada, pelo contrário,
transporta-nos para a fina e jocosa angústia de quem é preterido, sabendo nós
que no fim a jovialidade do amor sempre vencerá.
O
teatro musicado em Portugal tem uma actual, inspirada dinâmica. Será estranho? Será uma notável reacção de resistência dramática aos sombrios ventos nefastos que sopram
sobre nós a nível nacional e internacional?
02
de junho de 2025
«Sonho de uma Noite de Verão» de William Shakespeare. Tradução: Augusto Sobral. Encenação: Diogo Infante. Direcção musical: Artur Guimarães. Cenografia: Fernando Ribeiro. Figurinos: Dino Alves. Movimento: JP Costa. Desenho de luz: Cristina Piedade. Cenário virtual: João Alves e Bruno Caetano. Com Ana Cloe (Hipólita, Noiva de Teseu / Titânia, Rainha das Fadas), António Melo (Egeu, Pai de Hérmia / Pedro Marmeleiro, o Carpinteiro), Artur Guimarães (Maestro / Fada / Malhete, o Marceneiro), Carlos Malvarez (Filóstrato, Mestre de Festas de Teseu / Puck, Bobo de Oberon), Catarina Alves (Flor de Ervilha), Cristóvão Campos (Lisandro, apaixonado por Hérmia), Flávio Gil (Chico Flauta, o Remenda-Foles / Fada), Inês Pires Tavares (Hérmia, apaixonada por Lisandro), Jorge Mourato (Nicolau Meadas, o Tecelão), JP Costa (Tomás Pencudo, o Latoeiro / Grão de Mostarda), Mariana Lencastre (Teia de Aranha), Miguel Raposo (Teseu, Duque de Atenas / Oberon, Rei das Fadas), Raquel Tillo (Helena, apaixonada por Demétrio), Ricardo Lima (Roberto Passa-Fome, o Alfaiate / Mariposa), Ricardo Raposo (Demétrio, o preferido por Egeu para noivo de Hérmia), Sara Campina (Aia de Hipólita / Fada de Titânia). Fadas: André Galvão, Artur Mendes, Carolina Rodrigues, João Valpaços,Marcelo Cantarinhas, Tom Neiva e Vasco Avença. Músicos: André Galvão, Artur Mendes, Carolina Rodrigues, João Valpaços, Marcelo Cantarinhas, Tom Neiva, Vasco Avença. Produção: Teatro da Trindade INATEL. 120 minutos, aproximadamente. Teatro Teatro da Trindade.
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Março a 6 Julho 2025
Quarta
a Sábado 21h00 / Domingo 16:30
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