sexta-feira, 27 de junho de 2025

Sobre o livro «Boneca que Mata» de John Creasey, Romano Torres, Colecção Grandes Mistérios n.º 140, 1966 (1959). Tradução de Aurora Rodrigues (Dora).



 







Ir de férias e encontrar numa certa prateleira com algum pó, algumas teias sem aranhas, encostado a outros tantos de lombadas esbranquiçadas pelo Sol de décadas, um livro policial (sempre de bolso), daqueles publicados para serem comprados no quiosque das estações com a finalidade de nos levarem pelos carris do comboio, sem que deles déssemos conta. Letra pequena, papel que amarelecia. Histórias cuja intriga quase que adivinhamos, mas sempre mirabolante com as suas coincidências inverosímeis, heróis belos e incorruptíveis, jovens lindas e manipuláveis, polícias malandros, repórteres que se infiltram. A causa por vezes pouco importa, a linha corrida da intriga, essa sim!

O inglês John Creasey (1908 –1973), com centenas de livros publicados e mais de 20 pseudónimos, inventa essa personagem The Toff, o Honourable Richard Rollison, londrino, a morar em Gresham Terrace, e secundado por um mais que devoto mordomo, cozinheiro, mais que “olhos e ouvidos do rei”, principalmente substituto nas investigações, sabemos nós mais lá o quê, o Jolly.

O que é mesmo muito curioso neste romance é o facto da questão central ser a revolta ostensiva contra a imigração jamaicana para Londres (Inglaterra) e os meios ilegais que usam para os obrigarem ao repatriamento: o medo imposto através de objectos voodoo usados etnograficamente nas Índias Ocidentais. Para além, da importância da imprensa inglesa tabloide na interferência da investigação policial e na manipulação da opinião pública.

Quem diria que, quase 70 anos depois, iria ler um simples romance de comboio, com o mesmo ódio, a mesma irracionalidade bestial do ser humano que se passa actualmente mesmo aqui, nas nossas barbas, pelas nossas ruas, pela nossa Assembleia da República.

Claro que, no fim, Rollisson apresenta as boas razões para a imigração e a sua integração; desvenda todo o caso com a ajuda dos pugilistas de uma escola de bairro; usa um método inacreditavelmente subtil para aniquilar o criminoso, o falso repórter Fitzherbert, aliás Warren; a secretária linda e apaixonada Annabel Lee mostra-se arrependida pelo seu erro; e o mordomo Jolly irá certamente preparar uma chávena de chá preto, talvez Earl Grey, e todos ficarão contentes.

Adoro livros policiais!

 

jef, junho 2025

 

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