quarta-feira, 15 de abril de 2015

Sobre o filme «Viagem em Itália» (1954) de Roberto Rossellini.











O milagre da ionização do enxofre.
Sem traçar paralelos ou cruzar linhas secantes com a Nouvelle Vague, Jean Seberg ou Jean-Paul Belmondo, esta é das mais puras histórias de amor alguma vez idealizada. Exactamente por nada contar. E tudo dizer só pelo desconforto de uma terra estranha e quente que devia acarinhar mas só agride o passado que foi escolhido e, agora, talvez seja rejeitado. Uma separação de Tempos que obriga a monossílabos ácidos, a olhares desviados, à busca de paisagens que se revelam fora da escala humana. O desconforto desse passado reflectido em miniatura na História magnífica de Nápoles e na sombra de um Vesúvio que exorbita os iões de enxofre. A fleuma que esbarra na agreste amabilidade de um povo. Um povo que acabará por dissecar e expor aos nossos olhos o poder clássico do romance. 
Um modo cinematográfico a que Rossellini bem poderia ter chamado o milagre da ionização do amor.

jef, abril 2015

«Viagem em Itália / Viaggio in Italia / Journey to Italy» (1954) de Roberto Rossellini. Com Ingrid Bergman, George Sanders, Maria Mauban.

1 comentário:

  1. tenho a mesma sensação de beleza e de um grande filme quase sem história. Eu , aqui nas Caldas , faço com os amigos um cine clube com os filmes que temos por casa. todos juntos e uma selecção de qualidade . Neste momento estamos a ver Visconti e " l'inocente"- O intruso.bj fafa

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