quinta-feira, 18 de maio de 2017

Sobre o filme «Música a Música» de Terrence Malick, 2017














A banalidade da moral.
Suspeito que Terrence Malick caiu no logro de se apaixonar por si próprio, baixou as guardas e acabou por se amortalhar no sarcófago da própria linguagem. Que pretenderá ele dizer com este filme? Ou, melhor, que quererá ele que o espectador pense (ou sinta) com o seu filme?

Não é suficiente colocar Mahler, Handel, Debussi ou Ravel, pelo meio de Red Hot Chili Peppers, Iggy Pop, Meredith Monk ou da deusa Patti Smith.

Não é bastante ensopar a tela de planos rasantes à água, crepúsculos maravilhosos, cortinas verticais a envolver belas actrizes, camas desfeitas, arquitectura nouveau riche com vidros e acrílicos em modo lloyd-wright-pechisbeque e uma voz off a dizer continuamente banalidades pseudo-bíblicas de auto-ajuda.

É confrangedor ter tantas e tão belas actrizes no plateau e colocá-las dentro de um argumento celofane, sem estilo nem tónus: Cate Blanchett, Natalie Portman, Natalie Portman e a (bela, bela!) Patti Smith que, com a sua presença até parece que vai salvar o filme…. Mas não! Tudo desperdiçado.
Assim como Michael Fassbender… 
Só por isso, o realizador deveria ser punido por lei e obrigado a voltar aos bancos da escola.

Será que Terrence Malick quer dizer que o mundo do rock e das tournées em Austin-Texas é um mundo desgraçado, leviano, imoral, sem graça, onde todos vivem aparvalhadamente alegres, entediadamente deprimidos, entre festas e lençóis, até chegar a mãe para dizer que a nora não presta? (A nora é apenas a maravilhosa Cate Blanchett!).

Um realizador que pretende mostrar, outra vez, o catálogo dos seus bilhetes-postais predilecto pode ter os dias contados. Um filme não se torna denso por acumular clichés visuais, sequências musicais exóticas e frases feitas de paróquia, mas pode tornar-se terrivelmente dogmático, moralmente preservo.

Felizmente, ali, mesmo ao lado, continuam em exibição «A Rua da Vergonha» (1956), «A Imperatriz Yang Kwei-Fei» (1955) e «A Senhora Oyu» (1951) de Kenji Mizoguchi. Dá para lavar os olhos e a alma!

jef, maio 2017

«Música a Música» (Song to Song) de Terrence Malick. Com Ryan Gosling, Natalie Portman, Michael Fassbender, Natalie Portman, Cate Blanchett, Holly Hunter, Val Kilmer, Bérénice Marlohe, Patti Smith, Lykke Li, Black Lips, Red Hot Chili Peppers, Iggy Pop, John Lydon. EUA, 2017, Cores, 129 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário