O
prodígio deste filme revela-se na imagem escolhida para o seu cartaz.
Tudo é
belo. Tudo é sério. Tudo é efémero.
Estamos em Tóquio, na «Casa dos Sonhos», em
Yoshiwara, em 1956, durante mais uma discussão parlamentar sobre a lei da
prostituição. Estamos no ano da morte de Mizoguchi. É o seu último filme.
Na
imagem, que tudo contém, falta a virgem-quase-criança que vai ser iniciada e
com que o filme termina. A mais extraordinária cena de maquilhagem, a mais
tensa cena de fuga, medo, expectativa e sedução. Mesmo antes de aparecer no
ecrã a palavra fim.
Nesta
história de prostituição não existe comiseração e as tragédias (estão ali
todas) são vistas de forma múltipla, exterior e circunstanciada, apesar de
assistirmos a tão poucas cenas fora da «Casa dos Sonhos».
Dir-se-ia
que é um filme neo-realista dada a força e o modo como os temas são
introduzidos em torno das histórias das seis mulheres. Mas não é neo-realista.
Aqui não existe julgamento e moral, teoria ou método. Aqui, todas as histórias
têm dois lados: Yoshiwara é igualmente um local de refúgio, onde a alegria e o
ordenado vindos do sexo (aqui nada é observável) ajuda a compensar uma sociedade
que, do lado de fora, é 100 vezes mais inóspita.
Todo
o mundo está na «Casa dos Sonhos» e vemo-lo de um modo tão cruamente estilizado
que é impossível não sorrirmos e não nos comovermos ao mesmo tempo.
Sublinho:
este é um filme sobre a natureza humana, a sociedade, a lei da prostituição, a
«má vida», os afectos e a força no feminino. Toda a alma do cinema de Kenji
Mizoguchi está dentro do olhar das cinco mulheres neste cartaz.
Este
filme é maravilhosamente poderoso!
jef,
maio 2017
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