quinta-feira, 8 de junho de 2017

Sobre o filme «Festa em Gion» de Kenji Mizoguchi, 1953
















Consta que a palavra Bayashi não descreve propriamente festa ou músicos, mas um certo rufar de tambores que anuncia a festa anual no bairro de Gion, em Quioto.
A tradição no centro de um filme que se desenvolve na teia modernista dos negócios de um Japão pós-guerra.
O que mais surpreende, ensina e comove, neste filme sobre a vida das gueixas é o espelho dessa realidade económica e social quando recai sobre a vida daquelas duas mulheres. A curiosa, inexperiente e tão jovem Eiko, que se transforma na bela e estilizada bonequinha Miyoe, alindando as festas «comerciais» de homens ávidos de estatuto social. E Miyoko, com tarimba, a não menos bela gueixa de estilo e estatuto, a quem é confiada (e em quem confia) Miyoe.
Sobre a guerra da economia e do poder monetário, cresce a afirmação do poder feminino e da escolha exigível face aos parceiros que as contratam. Ser gueixa é também um código que deve ser imposto.
Ser gueixa é uma profissão exigente e bela que não pode condescender.
Ao dinheiro que tudo paga e deve satisfazer, existe uma norma de conduta e de protecção a seguir. Uma lei que a amizade impede de transigir.
Miyoko pode ser banida do circuito comercial das casas de gueixas mas não abandona Miyoe, ama-a até. Miyoe sabe que, por ela, Miyoko não tem trabalho, e implora que a deixe partir. Ela recusa, permanece inflexível, abraçam-se, aperaltam-se e partem de novo para a noite onde os tambores ainda se ouvem.
Este é o tema chave destes filmes maravilhosos. Uma das demandas principais de Kenji Mizoguchi.
Um prazer para os olhos, um fulcro para alma.

jef, junho 2017

«Festa em Gion» (Gion Bayashi) de Kenji Mizoguchi. Com Michiyo Kogure, Ayako Wakao, Seizaburô Kawazu. Japão, 1953, P/B, 82 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário