segunda-feira, 19 de junho de 2017

Sobre o filme «O Conto dos Crisântemos Tardios» de Kenji Mizoguchi, 1939.














A beleza, o amor e a política.
A mestria de Kenji Mizoguchi é tal que é difícil não afirmar que qualquer um dos seus filmes não é a súmula, o corolário, a afirmação dos restantes. Tanto os que o antecedem como todos os que o seguiram.
«O Conto dos Crisântemos Tardios», 1939, parece um filme conclusão, um filme que tanto busca na tragédia clássica da Grécia e de Shakespeare, como na ópera romântica de tradição italiana ou alemã. Um filme-conclusão que tem o centro, ali, irremediavelmente ligado  à ancestral ópera japonesa.
Mas o centro do filme roda e vai glorificar o esforço pela perfeição no teatro, a infalível busca pela verdade que está sempre contida na ribalta seguinte. O amor pelo Trabalho é uma das estratégias de Mizoguchi.
Também a devoção inquestionável no Amor que transforma o final deste filme num incomparável poema à paixão entre dois seres. A amada que parte e pede ao amado para não faltar ao aplauso final do espectáculo levando-a, deste modo, consigo. A vénia sublime que este fará sobre o rio. Uma vénia submissa e triunfal feita ao espectador, ao espectáculo, e à dádiva caridosa que lhe votou a sua protectora, orientadora, mulher, amante e diva. Até à morte.
No fundo, contra a austeridade de uma família, da casta teatral «dos crisântemos», vence afinal a insubmissão no seio da tradição e do rigor teatrais. Esta é outras das «vontades políticas» que sempre orientou o trabalho do realizador.
Finalmente, a inflexibilidade, a intransigência, a luta árdua de um artista que coloca a parafernália feroz da máquina cinematográfica ao serviço da beleza mais pura, das histórias mais comoventes, da consciência e da acção pela humanidade.
São estes filmes infalíveis!

jef, junho 2017

 «O Conto dos Crisântemos Tardios» (Zangiku monogatari) de Kenji Mizoguchi. Com Shôtarô Hanayagi, Kôkichi Takada, Gonjuro Kawarazaki. Argumento: Yoda Yoshikata, Director de fotografia; Yozô Fuji, Minoru Miki. Japão, 1939, P/B, 143 min.

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