quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Sobre o filme «Uma Vida de Cão» de Todd Solondz, 2016















Este filme é uma comédia desagradável sobre loosers, desamparados, desequilibrados. Humor sisudo, cáustico, a pontuar os momentos de tragédia comum a tantos norte-americanos, comuns aos nossos semelhantes. Porém, não deixa de ser desagradável, quase indesejável lançar, de modo aberto, quase desabrido, o humor negro sobre histórias falhadas. Talvez seja uma questão pessoal, mas constrange o gosto que eu tenho pelo cinema…
Contudo, é o universo permanente de Todd Solondz após «Hapiness» (1998), o seu filme consistente. Um grande filme sobre falhados. Depois, a fórmula esmoreceu, perdeu o fulgor. Tornou-se, simplesmente, desagradável.
E o povo americano continua a ser um grande povo apesar de ter eleito democraticamente Donald Trump (que aguarda com ansiedade a derrota final e a destituição através da intricada teia de senados e senadores… assim o espero…). Talvez Trump venha a ser, ele próprio, um falhado à Todd Solondz. Ficaria bem a passear um cãozinho salsicha vestido de menina, a única personagem simpática do filme.
A América sempre possuiu a melhor autocrítica cinematográfica. Não precisa de lições!
Claro que eu fui ver o filme pela Julie Delpy. Magnífica! E depois por Danny DeVito e as excelentes Greta Gerwig e Ellen Burstyn. Grandes actores que brilham sobre a ausência de futuro e o mundo desagradável de um realizador que amodorrou dentro do próprio léxico.
Mas atenção: o filme tem intervalo para pipocas e coca-cola e até para respirar um pouco e ouvir a boa canção ao estilo western: «The Ballad of Wiener-Dog» (Eric William Morris e Marc Shaiman). Um cão-cowboy. Afinal, nem tudo é sarcasmo serôdio.

jef, agosto 2017


 «Uma Vida de Cão» (Wiener-Dog) de Todd Solondz. Com Greta Gerwig, Keaton Nigel Cooke, Ellen Burstyn,Tracy Letts, Julie Delpy, Danny DeVito, Kieran Culkin, Zosia Mamet, Danny DeVito. EUA, 2016, Cores, 88 min.

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