segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Sobre o filme «A Fábrica de Nada» de Pedro Pinho, 2017.















Quem não vir este filme fica sem saber de que é feito o País.
É estranho e belo. Diria, estranhamente triste mas amável com o que aí vem, apesar de falar do passado e do presente de Portugal, da crise, do capitalismo, da falta de trabalho, de dinheiro ou da sua ausência, da mais-valia que só os homens conseguem descobrir na matéria-prima, das máquinas que substituem aqueles mas acabam por não lhes restituir o tal valor acrescentado. Apesar de falar do fim da autogestão por parte dos trabalhadores e, consequentemente, do fim de uma ideia fixada no tempo sobre um antigo 25 de Abril. Este filme não é piegas!
É áspero e vital mas também, repito, amoroso e realista, como «A Terra –Torre Bela» de Thomas Harlan (1977) ou «César Deve Morrer» de Paolo e Vittorio Taviani (2012). Como alguns filmes de Fernando Lopes e mais recentemente os de Miguel Gomes.
É uma dessas obras descobertas pelos recantos encantados, inteligentes e ternos que o Cinema Português sempre esconde.
Mesmo que tudo pareça estranho: a) A Póvoa de Santa Iria e o Tejo; b) a realização de Pedro Pinho coadjuvado por Luísa Homem, Leonor Noivo, Tiago Hespanha, Susana Nobre, João Matos, provocando um documentário sobre a autogestão de uma fábrica de elevadores reais – a Fortleva; c) a ideia original abandonada por Jorge Silva Melo sobre uma peça de Judith Herzberg; d) a produção em colectivo da Terratreme Filmes; e) a tragédia social que, afinal, é uma comédia musical, tão simples e clarividente, com bailado e cantoria dos operários e um punk desabrido com cuspo, suor e “stage diving”, d) afinal, o amor e o romantismo subliminares.
Sim, um filme sobre tudo e sobre a tal autogestão que se transforma na sua própria autocrítica. 
«A Fábrica de Nada» é essencialmente político, paradoxalmente juvenil, com a imagem do futuro para cartaz promocional.

jef, setembro 2017

«A Fábrica de Nada» de Pedro Pinho. Com José Smith Vargas, Carla Galvão, Njamy Sebastião, Joaquim Bichana Martins, Dinis Gomes, Américo Silva. Edição de Pedro Pinho, Luísa Homem, Leonor Noivo, Tiago Hespanha, Susana Nobre, João Matos. Ideia de Jorge Silva Melo sobre a peça de Judith Herzberg Portugal, Cores, 177 min.

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