quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Sobre o filme «O Meu Belo Sol Interior» de Claire Denis, 2017















Reduzir o discurso amoroso ao ponto de lhe retirar até a centelha de ridicularia a que tem direito, como Pessoa sublinhou, banalizando-o durante hora e meia, é também retirar-lhe o senso, o pathos, a sinceridade do sentimento, a própria filosofia. Venham as palavras de onde vierem.

Claire Denis tem na mão uma das melhores actrizes do mundo (das mais belas também) e coloca-a, logo de início, sob o fogo dessa tal banalidade, numa cena de sexo, atroz, inestética, longa demais, como todas as que lhe seguem. E para quê expor Juliette Binoche a tão degradantes cenas, sob um guarda-roupa tão desajustado, em que nunca se observa o centro do cenário ou se justifica o campo-contra-campo?

Pouco depois, surge outra cena feíssima. A do bar. A seguir vêm mais, umas a seguir às outras, até culminar com a do cartomante, um Gérard Depardieu caído do nada, ou saído do automóvel de Valeria Bruni Tedeschi, mas que salva o genérico final falando intensamente sobre nada. Reserve o espectador pois o contracenar desses dois grandes actores!

Recorde-se ainda a cena na casa de banho onde Juliette Binoche faz o impossível para revelar o seu génio. E revela!

Para mim, Juliette Bonoche será sempre a Juliette Binoche de, por exemplo,  Abbas Kiarostami («Cópia Certificada», 2010, « «Shirin», 2008) ou de Michael Haneke («Nada a Esconder», 2005), e procurarei esquecer a fealdade deste filme! O cinema deve procurar, antes demais, o sentido da beleza!

jef, janeiro 2018.

«O Meu Belo Sol Interior» (Un Beau Soleil Intérieur) de Claire Denis. Com Juliette Binoche, Xavier Beauvois, Philippe Katerine, Josiane Balasko, Valeria Bruni Tedeschi, Gérard Depardieu. Bélgica / França, 2017, Cores, 94 min.


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