quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Sobre o filme «Escândalo de Amor» de Michelangelo Antonioni, 1950



































Este filme podia ser uma ópera silenciosa, tal a carga cénica que é colocada em cada plano, rodeada da música de Giovanni Fusco, envolvida pela fotografia de Enzo Serafin, pelos longos planos em ponto de fuga e linhas convergentes de escadas de elevador, estradas, linhas de eléctrico; planos onde Lucia Bosè (Paola Molon Fontana) se move alongadamente como um belíssimo espectro estilizado, envolto pelos magníficos vestidos desenhados por Ferdinando Sarmi.

São longos planos quase lentos que colocam Paola Fontana entre dois mundos obstinados e cruéis. Inconciliáveis. O mundo milionário do industrial milanês e seu marido, Enrico Fontana (Ferdinando Sarmi), e o do mal agasalhado e empobrecido, agora reencontrado amor de juventude, Guido (Massimo Girotti). Por isso, esta ópera policial poderia ser um contraponto e uma libertação relativamente ao neo-realismo de Vittorio De Sica, usando os mesmos códigos à boníssima maneira de Antonioni: personagens silenciosos, em evasão de si próprias, do seu passado e do seu destino; personagens desaparecidas e falsamente reencontradas; mulheres que apenas têm a sua busca por método e homens enleados pelo que desejam mas recusam encontrar.

Este filme deve ser visto por diversas vezes, já que a extraordinária beleza de cada uma das cenas por vezes nos distrai das características essenciais e do ritmo da sua sequência, da densidade política de inúmeras falas.

Um assombro.

 

jef, setembro 2021

«Escândalo de Amor» (Cronaca di un Amore) de Michelangelo Antonioni. Com Lucia Bosè. Massimo Girotti, Gino Rossi, Ferdinando Sarmi, Marika Rowsky, Rosi Mirafiore, Rubi Dalma, Anita Farra, Carlo Gazzabini, Nardo Rimediotti Renato Burrini, Vittorio Manfrino, Vittoria Mondello. Argumento: Michelangelo Antonioni, Daniele D'Anza, Silvio Giovaninetti, Francesco Maselli, Piero Tellini. Produção: Franco Villani e Stefano Caretta. Fotografia: Enzo Serafin. Música: Giovanni Fusco. Guarda-roupa: Ferdinando Sarmi. Itália, 1950, P/B, 98 min.

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