quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Sobre a cassete «Knok Knok», Base Recordings, 2017







A ideia é muito cativante: a música, baseada em círculos programados digitalmente e reproduzidos por sintetizadores, vai sendo, de modo progressivo, modificada ao sabor de ligeiras adulterações genéticas praticadas sobre as amplitudes, os hertz e os comprimentos das ondas.

Por outro lado, a fita electromagnética da cassete, ao reproduzir também repetidamente as faixas musicais, degradando-se, vai apresentando-nos sempre versões diversas – ela própria uma compositora ladra!

A linha sonora concêntrica sugere-nos os desenhos que vão sendo elaborados pela caneta associada ao pantógrafo que circula como um pêndulo ao sabor da gravidade. O desenho termina num ponto único, estático, no centro da prancheta quando esta, por fim, pára.

Na cassete «Knok Knok» as faixas aparecem metódicas, planificadas, graficamente sonoras, em dobras circulares, mais ao menos cândidas, sob a égide electrónica de Armando Teixeira e de Duarte Cabaça (bateria), provocando uma síntese no nosso pantógrafo cardíaco.

Porém, já o lado B vai entrado, surge uma espécie de suspensão sinfónica com as faixas “P vs H” e “Acrílico Azul”, nas quais uma espécie de drum’n’bass estrutura a penumbra caótica. Um certo drum’n’bass que se estende já mais arquitectónico em “Concêntrico”, a penúltima faixa do lado B.

Por fim, e para que o ouvinte não se esqueça de que as cassetes têm sempre um lado romântico e de veraneio e que os Balla não desdenham meter foice alheia na seara cançonetista franco-italiana de décadas passadas, ouvimos essa longínqua nostalgia: “O Último Verão”. Aqui, a bateria é de Diogo Andrade.

Além, o design da capa é de Paulo Romão Brás.

 

jef, setembro 2022


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