segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Sobre o filme «Poeta» de Darezhan Omirbayev, 2021



















Nem sempre a poesia cinematográfica chega para construir um bom filme. Um filme que teria tudo para granjear o afecto do espectador. Um tranquilo périplo pela cultura distante do Cazaquistão e a reflexão sequente sobre a perda de influência das línguas periféricas face à aculturação e hegemonia centralizadora do inglês mal-falado, das novas “falas” digitais.

Didar (Yerdos Kanaev) é um poeta mal reconhecido a olhar com distância a importância da sua própria tarefa, o esforço tenaz que o faz escrever madrugada dentro enquanto a família dorme. Um colega apresenta-lhe um industrial rico cazaque que lhe dará bom dinheiro se ele fizer o elogio da fama e da fortuna da sua família. Entretanto, Didar embrenha-se na história trágica de um poeta nacional, Makhambet Otemisulyque, que, no século XIX, é assassinado por não acatar as ordens do poder vigente. O espectador vai encontrar a duplicidade das personagens / actores no caminho paralelo dos dois escritores e na silenciosa percepção de como é difícil, mesmo intransigente, a conciliação da liberdade do artista com os ditames do poder.

Tudo no filme ditaria o êxito cinematográfico para esta tão boa intenção. Contudo, ficamos apenas à beira de um sopro, de uma chama, entre a insonsa etnografia e o voyeurismo geográfico.

E nem sempre de boas intenções o melhor cinema é feito.

 

jef, dezembro 2022

«Poeta» (Akyn / Poet) de Darezhan Omirbayev. Com Yerdos Kanaev, Aida Abdurakhman, Darezhan Omirbayev, Klara Kabylgazina, Gulmira Khasanova, Serik Salkinbayev, Bolat Shanin. Argumento: Darezhan Omirbayev. Produção: Yuliya Kim, Yerzhan Akhmetov. Fotografia: Boris Troshev. Cazaquistão, 2021, Cores, 105 min.

 

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