domingo, 3 de dezembro de 2023

Sobre o filme «O Som do Nevoeiro» de Hiroshi Shimizu, 1956

















A Força do Destino.

Um precioso melodrama que toma a poética japonesa como ponto de partida para contar uma história que se inicia com a fuga do professor de botânica, Kazuhiko Onuma (Ken Uehara), para as montanhas alpinas japonesas, sendo aí acompanhado por Tsuruko (Michiyo Kogure), sua secretária e depois amante. Kazuhiko refugia-se do tumulto citadino, da derrota do Japão e do violento pós-guerra, da invasão avassaladora de uma nova cultura “americana” que vai tentar pôr termo aos ancestrais modos culturais nipónicos. De certo modo, o professor foge também da sua mulher que vem para o confrontar com a sua relação extra-cionjugal e a decisão própria em participar activamente na nova sociedade japonesa.

Tudo se passa na sucessão dos equinócios de Outono e das suas luas e nevoeiros, numa série de episódios em flashback. A utilização do ciclo anual da natureza florestal e da contida poesia japonesa, a linearidade dos decores, a fulcral síntese dos diálogos, a fixação da câmara frente à expressão dos actores que devolve ao espectador a proximidade insolúvel do futuro e a colocação ao longo da narrativa dos sinais inevitáveis de um drama absoluto, deixam este belíssimo filme na esfera da ópera verdiana, das histórias de Stefan Zweig e, acima de tudo, do respeito carinhoso mas tenso entre gerações que marca a cinematografia do enorme Yasujiro Ozu.

Um drama sem mácula nem tempo.


jef, novembro 2023

«O Som do Nevoeiro» (Kiri no oto) de Hiroshi Shimizu. Com Michiyo Kogure, Ken Uehara, Keizô Kawasaki, Keiko Fujita, Chieko Naniwa, Takeshi Sakamoto, Bontarô Miake, Kumeko Urabe, Eijirô Yanagi. Argumento: Yoshikata Yoda, segundo o romance de Hideji Hôjô. Produção: Masaichi Nagata. Fotografia: Sôichi Aisaka. Música: Akira Ifukube. Japão, 1956, Preto e Branco, 84 min.

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