O que impressiona em «O Americano Tranquilo», filmado entre a romana Cinecittà e a vietnamita Saigão, nessa enorme sequência de cenas em flashback é a sua característica poética de nunca se definir perante o espectador. Em longas tiradas literárias introspectivas, ora depressivas ora inquisitoriais, o espectador fica perante diversas questões por resolver neste crime a céu aberto, e nocturno.
Devemos seguir o fio condutor trazido pelo velho oficial
diplomata britânico Thomas Fowler (Michael Redgrave), que se reformará em breve do seu
posto naquela cidade da Indochina em ebulição, casado na Europa mas com trato doméstico com a
jovem Phuong (Giorgia Moll); ou aquele outro móbil, o do jovem americano,
empreendedor e com vontade de se estabelecer comercialmente no local, e que
acaba perdidamente apaixonado por Phuong? Ou devemos antes seguir a pista que vai
sendo desvendada pelo chefe da polícia francês, o inspector Vigot (Claude Dauphin)?
Será
apenas cínico ou decadente o desprendimento do inglês e assim tão ingénuo e voluntarioso
o entusiasmo do americano? Qual a relação afinal entre Dominguez (Fred Sadoff)
e o obscuro Mr. Heng (Richard Loo)?
Qual
a importância da verdadeira tradução explosiva para a palavra “plastic” num mundo onde a
América pretendia entrar a matar, a França colonial fraquejava na manutenção da ordem e os independentistas comunistas não davam mostras de desistência?
A
história de um triângulo amoroso tomada pela poética das imagens e pelo rumor
interior, cada vez mais acirrado, da voz off e pela chegada tarde demais de uma carta
esclarecedora.
Um
filme que transforma a dúvida política e o poder pelo amor num acto estético.
jef,
abril 2024
«O
Americano Tranquilo» (The Quiet American) de Joseph L. Mankiewicz. Com Michael
Redgrave, Claude Dauphin, Audie Murphy, Giorgia Moll, Bruce Cabot, Fred Sadoff,
Kerima, Richard Loo, Peter Trent, Georges Bréhat, Cliton Anderson, Yoko Tani, Nguyen
Long, C. Long Cuong, Tu An. Argumento: Joseph L. Mankiewicz e Edward Lansdale baseado
no romance de Graham Greene. Produção:
Joseph
L. Mankiewicz, Vinh Noan, Michal Waszynski. Fotografia: Robert Krasker. Música:
Mario Nascimbene. EUA, 1958, Preto e Branco, 122 min.
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