segunda-feira, 22 de abril de 2024

Sobre a peça «Leões» de Pau Miró, 2024



 




























Em Pau Miró a realidade é diversa e um facto pode ser interpretado de modo diferente, conforme o olhar, conforme o preconceito e o trauma que vêm do passado, ou o desejo que se projecta no futuro.

David entra à noite na lavandaria por um portão que mal se fecha. Pretende lavar uma camisa suja de sangue. O pai, a mãe e a filha, que fazem a gestão da lavandaria, vão cativando-o. David vai ficando, sem explicar a razão da sua urgência. Pela manhã tomam o pequeno-almoço com café, torradas e doce ácido de ameixa quando surge, como visita, um amigo de infância da família, agora inspector da polícia (que se proíbe de beber cerveja). Uma faca ensanguentada e cocaína aparecem, algures. O interrogatório recrudesce e atinge o auge na violência masculina entre traumas, desejos e verdades. Nenhuma delas parece cabal, todas poderão ser plausíveis. Como se poderão eles compreender se todos estão sós? As mulheres permanecem à parte aguardando alguém que, em criança, se escapuliu por aquele mesmo portão de fechadura avariada e nunca mais voltou.

Em Pau Miró, a vida está em suspenso aguardando pela verdade que pode até nem regressar.

 

jef, abril 2024


«Leões» Texto: Pau Miró. Tradução: Joana Frasão. Encenação: António Simão. Com Andreia Bento (a mãe), Iris Runa (Sara, a filha), Pedro Carraca (o pai), Pedro Caeiro (o inspector) e Vicente Wallenstein (David). Cenografia e Figurios: Rita Lopes Alves. Desenho de Luz: Pedro Domingos. Desenho de Som: André Pires. Produção: Artistas Unidos / Teatro da Politécnica. 110 minutos.

Teatro da Politécnica de 11 de Abril a 4 de Maio de 2024

3ª a 5ª às 19h00 | 6ª às 21h00 | Sáb às 16h00 e às 21h00

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