«Ossos» é um filme inquietante. Extremamente inquietante. Surge como antecâmara, três anos antes, do colossal «No Quarto da Vanda». Contudo, este não é menos colossal, não é menos belo através da sua recente digitalização.
As
imagens (agora) sucedem-se, brilhando quase renascentistas, perante o
romantismo quase naturalista destas personagens cujo rumo é tão forte quanto
decadente. Sem eira nem beira, sem passado, sem futuro, de presente rasurado.
A
história não dá tréguas ao espectador, sincopada, alterada,
resignada porque não revoltada nem desesperada. Romântica porque não neorrealista,
naturalista porque a vida de Clotilde (Vanda Duarte), Tina (Maria Lipkina) e
Eduarda (Isabel Ruth) vivem na espuma da ressaca de uma maré cujo refúgio é, e
será sempre, a amizade, mesmo que fracturada pelo infortúnio brutal de uma vida
que não as deseja…
Isabel
Ruth e o serviço doméstico (e muito mais) transporta-me a «Os Verdes Anos» de
Paulo Rocha, 1963.
Um belíssimo filme sobre a inconsequência da vida.
jef,
outubro 2024
«Ossos» de Pedro Costa. Com Vanda Duarte, Nuno Vaz, Maria Lipkina,
Isabel Ruth, Inês de Medeiros, Miguel Sermão, Berta Susana Teixeira, Clotilde
Montron, Zita Duarte, Beatriz Lopez, Luísa Carvalho, Ana Marta, Carolina Eira, Ricardo
Tavares. Produção: Paulo
Branco. Imagem: Emmanuel Machuel. Guarda-roupa: Isabel Favila. Portugal, 1997, 94
min.
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