Menos clássica, mais romântica, de toada groovy ou ajazzada,
pimba ou dodecafónica, polifónica, menos profissional, mais amadora, comercial,
publicitária, canto gregoriano, cante alentejano… A música. Descobrir qual o princípio
vital que leva tantos a perder tanto tempo e a gastar tanto dinheiro com a
música não é tarefa imediata.
Sequer questão importante.
Uma coisa é certa: a música é efémera, finita e somática.
Acaba e começa no corpo, no ponto exacto onde o espírito desperta e as células
experimentam.
Pode dizer-se que, por experiência, a música é
psicossomática.
É a realidade de «Talbot», álbum fabricado pelo punho
estético e pela memória celular de Paulo Romão Brás e Miguel Ferreira.
Será «Talbot» um disco de canções? Talvez… Será um disco de pop
electrónica? Música para dançar? Talvez… Talvez seja tudo isso e um pouco mais.
As recordações sobrepõem-se a tudo o que foi construído musicalmente e depois
desconstruído pelo ciclo sonoro dos dias seguintes. A esses ciclos de cópia e
destruição chamarei, repito:
Experiência
de quem a idealizou primeiro e, depois, de quem a escuta e
continua a idealizar, de quem a ensaia, talvez, a dance.
Quem já cantou ou tocou ou dançou sabe que a música é pura abstracção
realizada pelo corpo. Logo, a música de «Talbot» é física.
«Talbot» é coisa simples: transporta as recordações e os códigos musicais para que experimentemos o futuro. Só isso!
E, já agora, «música experimental» não existe, por pleonasmo!
[nota: a
orientação gráfica é da equipa de design do Ophelia Estúdio / Cristiana
Couceiro. Ouvem-se as vozes de Cláudia Efe, Lydie Barbara e Ana de Barros; a
guitarra de Nuno Lima; a guitarra portuguesa de M-Pex e a mestria de Armando
Teixeira na masterização. As palavras ditas e cantadas são escritas pelos
Talbot, Charles Baudelaire, Manuel Halpern e ainda por este humilde
escrevinhador que aqui vai depositando alguns textos:
João Eduardo Ferreira]
junho 2015
«Talbot», Hob Recordings 2015
http://hobrecordings.tumblr.com/
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