terça-feira, 30 de junho de 2015

Sobre o filme «Luz de Inverno» de Ingmar Bergman, 1963













A dimensão real de Deus

fica restringida ao ser comparada com o sofrimento do homem, a sua inveja, as suas desilusões e negações, a doença e a infelicidade, a verdade condicionada, os sonhos caídos, o amor perdido para sempre, o amor que não se corresponde.

Qual o sacrifício maior de Cristo, o homem: o pesadelo físico, suspenso na cruz por mais ou menos quatro horas, ou o pesadelo espiritual: a dúvida sobre o abandono do Pai, berrada da cruz; a incompreensão dos apóstolos quanto à importância da ceia que era última, quando por fim adormeceram; Pedro, o amigo, a negá-lo por três vezes antes do alvorecer?…

A dimensão da dúvida humana é sublime e poética. Tal como a luz deste filme e a dor superior dos rostos de Cristo que vão surgindo através de cenários nus como esculturas. A expressão angustiada de Cristo é caricatural e fantasmagórica. Quase risível, como o sarcasmo do acólito e do organista.

Quando o amor termina onde ficará a pairar a sua alma?

Será que o silêncio de Deus corresponde ao seu vazio quando se descobre que a morte é simplesmente o fim coincidente do corpo e da alma?

Nada há a dizer sobre este filme.

jef, junho 2015

«Luz de Inverno» (Nattvardsgästerna) de Ingmar Bergman (1963). Com     Ingrid Thulin, Märta Lundberg, Gunnar Björnstrand, Gunnel Lindblom, Max von Sydow, Allan Edwall.

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