domingo, 21 de junho de 2015

Uma partícula ionizada pela transcendência e pela resignação





Quando tiver tempo observarei com atenção as paredes e toda a informação que elas contêm.

Depois esquecerei e começarei tudo de novo. Ganharei tempo e voltarei a observar.
As paredes serão novas, como sempre são as palavras quando faladas de novo.
As paredes são sempre conjugadas no futuro. Esqueço-as outra vez.
Nesse tempo, como já disse, voltarei a observar. Verei a tinta, a caliça, o salitre, o tabique. Um tijolo ou outro.

Aproximar-me-ei, colocarei a palma da mão sobre as artérias carnudas, superficiais, ansiadas, das palavras. Digo, das paredes.
Sentirei o coração a latejar, escondido, forte, longe do olhar. Beijá-lo-ei.

Nesse tempo, estarei a observar novamente, porque esquecido. Observarei melhor.
Com o correr do tempo, tempo terei.

jef, junho 2015
escrevo enquanto observo com minúcia:
«Ao correr do tempo» (Im Lauf der Zeit) de Wim Wenders 1976.
«Morrer é mais difícil do que parece» de Paulo Varela Gomes, Granta 5, Tinta da China 2015.
«At Least for Now» de Benjamin Clementine, Barclay 2015

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