quarta-feira, 22 de julho de 2015

Sobre o filme “O Rosto” de Ingmar Bergman, 1958









Mas que filme é este?

São todos comediantes, bruxos, saltimbancos, prestidigitadores do magnetismo, circenses ambulantes, falsos espectadores, falsos amantes, falsos traidores, falsos actores. Falsa floresta, farsa falsa. Até o elixir do amor é remédio para os ratos (que não mata). Todos parecem odiar, ou odiarão mesmo? Todos estarão com medo.
Mas o verdadeiro medo, poderá ser fingido?

O que será falso no teatro? (Recorde-se Pirandello…)

O mais trágico dos impostores, bêbado e moribundo, antes de morrer pela segunda vez, mesmo antes de ser autopsiado, implora agarrando-se ao Dr. Vogler, de barba postiça: «Não quero morrer sem ser utilizado!»

O reflexo nos espelhos, as cabeleiras, o poder e a sedução, têm aqui um sentido segundo. As personagens andam trocadas. E eu, espectador mais ou menos real, não entendo para onde me estão a levar… 

Este filme sugere guardar o meu próprio medo.

Que comédia tão cruel!

jef, junho 2015

«O Rosto» (Ansiktet) de Ingmar Bergman, 1958. Com Max von Sydow, Ingrid Thulin, Gunnar Björnstrand, Naima Wifstrand, Bengt Ekerot, Bibi Andersson, Lars Ekborg, Erland Josephson, Gertrud Fridh, Toivo Pawlo e Äke Fridell.

2 comentários:

  1. A crueldade (do animal humano) é o território de Bergman. E as suas comédias são mesmo amargas e tão ou mais cruéis (se possível) que outros filmes seus. Só exceptuo desta apreciação os "Sorrisos de uma noite de Verão".

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    1. é bem verdade caríssimo António Sá! mas existe também uma comédia latente em Fanny e Alexandre e em muitos outros... Em Bergman, um humor teatral e universal, singelo e definitivo!

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