A lei do mercado não é a lei dos homens.
O mercado não é humano.
Thierry (Vincent Lindon), pai de família com encargos particulares
e desempregado de longa duração, vê-se obrigado a aceitar trabalho num
supermercado como vigilante.
O mercado constrange a sua vida, oprime-o, mas vai mais longe
e utiliza-o, humilha-o, deixando-o perante situações cada vez mais confrangedoras.
Thierry resiste.
O espectador entra sem rede numa sequência de cenas sem
princípio nem final. Não se vêem portas a fechar, passos em corredores. As
conversas são apanhadas a meio e praticamente não existem cenas de exterior.
Apenas o diálogo, o silêncio e os olhares, como na realidade, a explicar (ou revoltando) o acto da subjugação. A denunciar a claustrofobia de quem deve aceitar as piores condições apenas para fazer sobreviver a família e o afecto que a mantém unida.
Vincent Lindon é extraordinário!
Também Karine de Mirbeck, a
sua mulher, e Matthieu Schaller, o seu esforçado filho e aspirante a Biologia
na faculdade.
«Quantas gotas de água cabem num copo vazio?», pergunta-nos Matthieu,
numa das cenas mais metaforicamente perfeitas do filme, digamos, de uma beleza política!
«Paraíso, Agora» de Hany Abu-Assad, 2005; «O Segredo de um
Cuscuz» Abdellatif Kechiche, 2007; «A Morte do Senhor Lazarescu», Cristiu Puiu,
2005; «4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias» de Cristian Mungiu, 2007; «Dois Dias, Uma
Noite» de Jean-Pierre e Luc Dardenne, 2014; «A Lição» de Kristina Grozeva e Petar Valchanov,
2014.
Estaremos perante um Neo-neo-realismo onde a doutrina
dirigida para a ética do colectivo se transformou na doutrina para a resistência
do indivíduo só?
jef, maio 2016
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