terça-feira, 3 de maio de 2016

Sobre o filme «A lei do Mercado» de Stéphane Brizé, 2015















A lei do mercado não é a lei dos homens.
O mercado não é humano.
Thierry (Vincent Lindon), pai de família com encargos particulares e desempregado de longa duração, vê-se obrigado a aceitar trabalho num supermercado como vigilante.
O mercado constrange a sua vida, oprime-o, mas vai mais longe e utiliza-o, humilha-o, deixando-o perante situações cada vez mais confrangedoras. Thierry resiste.
O espectador entra sem rede numa sequência de cenas sem princípio nem final. Não se vêem portas a fechar, passos em corredores. As conversas são apanhadas a meio e praticamente não existem cenas de exterior. Apenas o diálogo, o silêncio e os olhares, como na realidade, a explicar (ou revoltando) o acto da subjugação. A denunciar a claustrofobia de quem deve aceitar as piores condições apenas para fazer sobreviver a família e o afecto que a mantém unida.
Vincent Lindon é extraordinário! 
Também Karine de Mirbeck, a sua mulher, e Matthieu Schaller, o seu esforçado filho e aspirante a Biologia na faculdade.
«Quantas gotas de água cabem num copo vazio?», pergunta-nos Matthieu, numa das cenas mais metaforicamente perfeitas do filme, digamos, de uma beleza política!

«Paraíso, Agora» de Hany Abu-Assad, 2005; «O Segredo de um Cuscuz» Abdellatif Kechiche, 2007; «A Morte do Senhor Lazarescu», Cristiu Puiu, 2005; «4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias» de Cristian Mungiu, 2007; «Dois Dias, Uma Noite» de Jean-Pierre e Luc Dardenne, 2014; «A Lição» de Kristina Grozeva e Petar Valchanov, 2014.

Estaremos perante um Neo-neo-realismo onde a doutrina dirigida para a ética do colectivo se transformou na doutrina para a resistência do indivíduo só?

jef, maio 2016

«A Lei do Mercado» (La Loi du Marché) de Stéphane Brizé. Com Vincent Lindon, Karine de Mirbeck, Matthieu Schaller. França, 2015, Cores, 93 min.

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