
Ocorre-me escrever que, ontem, vi um dos filmes da minha
vida.
«Nove Dias de Um Ano» não tem tempo. Enquanto o via, qualquer
coisa foi rebuscar o abecedário da minha memória de cinema. «O Medo» de Ingmar
Bergman (1954), «Jules e Jim» de François Truffaut (1962), «A Casa Encantada»
de Alfred Hitchcock (1945), «Casablanca» Michael Curtiz (1942) […]
Depois reconheci que a minha memória andava errónea, que o
filme tinha a ver apenas com a sintética arquitectura da luz, de portas e
escadas, uma estratégia concisa de sombras e planos cruzados, corredores
percorridos, plasmas ionizados, sobrecarga de reactores nucleares, corpos
sobre-expostos a neutrões enervados.
A voz-off a expor a tragédia escondida sob uma comédia latente.
Nesse momento, entendi como os parvos estão geneticamente muito
mais adaptados ao mundo do que os inteligentes. Também me disseram como, desde
Neanderthal até aos abajures feitos de pele de judeus, a humanidade pouco
evoluiu. Justificaram também que nada valia ficarmos pela visita a Vénus se podemos
chegar ao fundo da galáxia. Fizeram-me compreender que a vida significa pois podemos falhar uma ideia 100 vezes e tentar de novo.
Quem não vir este filme e não descobrir nele a maravilhosa luz
do cinema, o riso subliminar das palavras, o futuro energético do planeta, a
composição teatral da humanidade, então não compreende a função da Arte.
Percebi eu com este filme que a memória compara mal e que a ternura
vale tudo e a vida também.
jef, maio 2016
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