sexta-feira, 13 de maio de 2016

Sobre o filme «Nove Dias de Um Ano» de Mikhail Romm, 1962








Ocorre-me escrever que, ontem, vi um dos filmes da minha vida.
«Nove Dias de Um Ano» não tem tempo. Enquanto o via, qualquer coisa foi rebuscar o abecedário da minha memória de cinema. «O Medo» de Ingmar Bergman (1954), «Jules e Jim» de François Truffaut (1962), «A Casa Encantada» de Alfred Hitchcock (1945), «Casablanca» Michael Curtiz (1942) […]
Depois reconheci que a minha memória andava errónea, que o filme tinha a ver apenas com a sintética arquitectura da luz, de portas e escadas, uma estratégia concisa de sombras e planos cruzados, corredores percorridos, plasmas ionizados, sobrecarga de reactores nucleares, corpos sobre-expostos a neutrões enervados.
A voz-off a expor a tragédia escondida sob uma comédia latente.
Nesse momento, entendi como os parvos estão geneticamente muito mais adaptados ao mundo do que os inteligentes. Também me disseram como, desde Neanderthal até aos abajures feitos de pele de judeus, a humanidade pouco evoluiu. Justificaram também que nada valia ficarmos pela visita a Vénus se podemos chegar ao fundo da galáxia. Fizeram-me compreender que a vida significa pois podemos falhar uma ideia 100 vezes e tentar de novo.
Quem não vir este filme e não descobrir nele a maravilhosa luz do cinema, o riso subliminar das palavras, o futuro energético do planeta, a composição teatral da humanidade, então não compreende a função da Arte.
Percebi eu com este filme que a memória compara mal e que a ternura vale tudo e a vida também.


jef, maio 2016

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