quarta-feira, 26 de abril de 2017

Sobre o filme «Os Amantes Crucificados» Kenji Mizoguchi, 1954


















Sobre este filme perfeito não há muito a dizer. Só a contemplar.
Romeu e Julieta, Pedro e Inês, Tristão e Isolda. Mohei (Hasegawa Kazuo) e Osan (Kagawa Kyôko). A tragédia da paixão saldada perante a sociedade pelo sacrifício dos amantes.
Kenji Mizoguchi revela a eterna ferida do amor desencontrado com a mais fina elegia. Resume a beleza dessa imolação, traduz toda a poética dramática da humanidade num amor que só é alvejado a meio do drama, sobre uma barca, em fuga, adiando o desfecho na perpetuidade de uma fugaz declaração de amor. 
Tudo termina ali. Tudo aí começa. O amor eterno é findo!
O espectador sabe-o pois, até ali, assistiu a uma espécie de comédia de costumes, com troca de identidades, estatutos sociais, sucesso laboral, amabilidade e alegria e, na breve e descomunal cena, confronta-se com a inevitabilidade da tragédia. Só a fuga está reservada aos amantes mas, todos sabemos, a sociedade é implacável e não admite insurrectos.
Assim sempre foi declarado o sofrimento do amor por todo o teatro clássico, o existencialista, e o demais, o oriental e o ocidental. Apenas a chama da serenidade é colocada, como ponto final, com a execução da pena. Como acontece na irreverente paixão de Jesus Cristo.
Contudo, em «Os Amantes Crucificados», Kenji Mizoguchi faz ecoar a beleza total como salvação do mundo, expondo “politicamente” a iniquidade da sociedade à verdade absoluta do Amor.
Um filme a guardar num recanto muito especial do coração.

jef, abril 2017

«Os Amantes Crucificados» (Chikamatsu monogatari) de Kenji Mizoguchi. Com Hasegawa Kazuo, Kagawa Kyôko, Minamida Yôko; Shindô Eitarô, Ozawa Eitarô; Sugai Ichiro, Tanaka Haruo; Ishiguro Tatsuya. Argumento: Yoda Yoshikata e Matsutarô Kawaguchi a partir da peça de Monzaemon Chikamatsu, fotografia: Miyagawa Kazuo, montagem: Suganuma Kanji, produção: Masaichi Nagata / Daiei Studios, música: Hayasaka Fumio. Japão, 1954, P/B, 100 min.

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