Saia da sua zona de conforto e entre na sua zona de conforto mas
de modo muito mais consciente. Este é um disco importante.
«Um dia para o opressor, outro para o oprimido» escolhe a
violoncelista Leyla McCalla como tema para definir essa coisa estranha que é a vida. Ela
que vem do Haiti para abraçar todos os ritmos do Louisiana, de New Orleans, e
reconhecer quanta força a transumância obrigatória e repressora da escravatura veio
transmitir à música universal. Leyla McCalla declara através do
provérbio haitiano esse modo eterno de «resistência- subterfúgio» usado pelos povos para poderem chegar até ao futuro.
Mas Leyla McCalla faz mais. Com a sua voz de vibrato suave e
afinado, terno e assertivo, impõe ao modo popular, à folk e à country, aos
blues e à balada, uma beleza quase erudita e cerimoniosa, reverente e
provocadora. Francês, inglês e crioulo do Haiti, temas brutos e amoráveis, ajudados pela mestria de Rhiannon Giddens, Louis Michot, Marc Ribot, Sarah
Quintana, ou dos Lost Bayou Ramblers,. Tudo soa à acústica do Sul das margens
quentes e húmidas do Mississipi e dessa maravilhosa e afectuosa mistura de
cores de pele.
Será que uma canção de embalar pode acordar o espírito ou
estar a um passo de uma marcha fúnebre? Quem oiça «A
Day for the Hunter, a Day for the Prey» de Leyla McCalla que o diga.
Para mim um dos provérbios para jamais esquecer.
Um dos álbuns de
2016.
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