terça-feira, 28 de março de 2017

Sobre o filme «Alice nas Cidades» de Wim Wenders, 1973




















Rüdiger Vogler é Philip Winter, um jornalista que busca inspiração para uma reportagem sobre a imagem americana. Sem sucesso, vai tirando polaroids que colecciona em duas caixas. Desiludido, reclama «nunca ficam como nós vemos!». Este é o ponto de partida. Nada é como nós vemos ou desejamos. Daí o sonho, daí o medo de o perder.

O sonho que é palavra a representar coisa que não existe. E o medo que é, acima de tudo, o medo de ter medo.

O actor Rüdiger Vogler está no centro das três obras mais importantes de Wim Wenders. Três filmes sobre o curso e percurso. «Ao Correr do Tempo» 1976, «Movimento em Falso» 1975, «Alice nas Cidades» 1973. 30 anos após o fim da Grande Guerra, qual o papel do medo na Alemanha? Qual o papel do sonho americano?

«Alice nas Cidades» tudo condensa numa sucessão de imagens cujo desconexo é inocente, ingénuo, amável e ternurento. Profícuo e belo. A solidão é acompanhada. O sonho afinal conta-se pela noite como história para adormecer e esquecer. O medo de nos perdermos na cidade, Nova Iorque, Amesterdão, Wuppertal, afinal desvanece-se com o sorriso impresso numa série de photomaton, numa viagem de comboio ao longo do rio Ruhr. Numa nota de 100 dólares, misteriosa e benévola, deus ex-machina a repor a confiança e a continuidade da viagem. Afinal, sem sonho mas também sem medo.

«Alice nas Cidades» um filme contado à flor da pele cinematográfica.

jef, março 2017

«Alice nas Cidades» (Alice in den Städten) de Wim Wenders. Com Rüdiger Vogler, Yella Rottländer, Lisa Kreuzer, Edda Köchl, Didi Petrikat, Hans Hirschmüller, Sam Presti, Ernst Böhm, Mirko, Lois Moran, Sibylle Baier. Alemanha, 1973, Cores, 110 min.

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