A angústia do argumentista quando enfrenta o problema do
ataque dos lobos não tendo a certeza se os prejuízos das ovelhas serão
ressarcidos pelo Estado e, em crise financeira e como pai solteiro, não sabe
onde mudar a fralda ao seu filho nem com quem quer ir para a cama... Ainda há
uma musa florestal, muitas casas desarrumadas, os Pink Floyd…
Enfim, uma confusão de sentimentos, como diria Stefan Zweig.
Se Alain Guiraudie gosta de colocar as histórias em paisagens
que nos observam, tornando-as de tal modo cénicas que a fantasia mítica e
fantasmagórica da floresta toma as rédeas ao argumento, então aconselhar-lhe-ia
«O Ornitólogo» de João
Pedro Rodrigues (2016).
Se o realizador não teme dar corpo a personagens à deriva,
quase burlescas, mas ligadas por fios de novela e romantismo entrelaçado, de
tal modo intrincado, diria implicado, que se tornam risíveis, eu sugerir-lhe-ia
a série «O Pequeno Quinquin» de Bruno Dumont (2014).
Se quer ainda adensar dramaticamente uma história, não
abdicando da tragédia clássica, da estrutura social saliente, do suspense
crescente, do pathos, do epílogo inconclusivo, dos temas que agitam (ainda) a
sociedade, então diria a Alain Guiraudie que fosse à estante e reiterasse o seu
anterior filme «O Desconhecido do Lago» (2013). A sexualidade, a homossexualidade,
o sexo, o tema «queer», não bastam para dar o fito a um filme.
jef, março de 2017
«Na Vertical» (Rester Vertical) de Alain Guiraudie. Com
Damien Bonnard, India Hair, Raphaël Thiéry, Christian Bouillette. França, 2016,
Cores, 98 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário