terça-feira, 21 de março de 2017

Sobre o filme «Na Vertical» de Alain Guiraudie, 2016



















A angústia do argumentista quando enfrenta o problema do ataque dos lobos não tendo a certeza se os prejuízos das ovelhas serão ressarcidos pelo Estado e, em crise financeira e como pai solteiro, não sabe onde mudar a fralda ao seu filho nem com quem quer ir para a cama... Ainda há uma musa florestal, muitas casas desarrumadas, os Pink Floyd…
Enfim, uma confusão de sentimentos, como diria Stefan Zweig.

Se Alain Guiraudie gosta de colocar as histórias em paisagens que nos observam, tornando-as de tal modo cénicas que a fantasia mítica e fantasmagórica da floresta toma as rédeas ao argumento, então aconselhar-lhe-ia «O Ornitólogo» de João Pedro Rodrigues (2016).

Se o realizador não teme dar corpo a personagens à deriva, quase burlescas, mas ligadas por fios de novela e romantismo entrelaçado, de tal modo intrincado, diria implicado, que se tornam risíveis, eu sugerir-lhe-ia a série «O Pequeno Quinquin» de Bruno Dumont (2014).

Se quer ainda adensar dramaticamente uma história, não abdicando da tragédia clássica, da estrutura social saliente, do suspense crescente, do pathos, do epílogo inconclusivo, dos temas que agitam (ainda) a sociedade, então diria a Alain Guiraudie que fosse à estante e reiterasse o seu anterior filme «O Desconhecido do Lago» (2013). A sexualidade, a homossexualidade, o sexo, o tema «queer», não bastam para dar o fito a um filme.

jef, março de 2017


«Na Vertical» (Rester Vertical) de Alain Guiraudie. Com Damien Bonnard, India Hair, Raphaël Thiéry, Christian Bouillette. França, 2016, Cores, 98 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário