«É aí que o meu prédio habita. Tem logradouro com
quintal ainda não transformado em garagem, com retenção e escoamento naturais
de águas pluviais, para descanso do Arquitecto. Nespereira, limoeiro e um
abacateiro a crescer desmesuradamente junto à empena tardoz chegando a tocar a
roupa que se estende no primeiro andar. Canteiros com flores, agapantos e
azáleas, que as sardinheiras já estão fora de moda. Um estendal para serventia
do porteiro, o Simão, e a casota do Tareco. Todos perguntam as razões de (1) o
prédio ter porteiro, relativamente novo, e não porteira, relativamente velha; e
de (2) o canzarrão, dócil e sereno, ter nome de gato. Ninguém obteve as
respostas pois são todos um pouco metidos com eles, por timidez ou por estatuto
emprestado.»
João Eduardo Ferreira
in « Eu, por ti, me
identifico» in «B.I. – Caderno de Identidade», By the Book 2017
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